talvez minha vida seja assim

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11.9.06

Recortes sobre o olhar

Esta compilação poderia muito bem se chamar "Lembranças e pensamentos sobre lésbicas, postura e sociedade - ênfase no olhar" ou "Relato de como aprendi a olhar o mundo com Violeta". De qualquer maneira, são apenas recortes de situações e pensamentos colocados de forma cronológica. Não sei se é útil para alguém, mas de certo é algo que eu gostaria de deixar registrado.

Escrito e dedicado à minha Violeta.



Na amizade.
Agosto de 2005 a Junho de 2006.
Adorava andar com a Violeta. Ótima amiga, ótima companhia para festas. Lésbica assumida. "Nossas próximas namoradas vão ser assumidas, né? Por favor!" Uma garota andrógina de moicano azul. Cheia de idéias, cheia de energia, sempre contagiante. O mundo deveria ser encarado de frente. Ao lado dela, eu me sentia forte. Andávamos de mãos dadas nos shoppings, ríamos das caras das pessoas. "Todo mundo já sabe, para que esconder?" A gente flertava uma com a outra. Ela era minha namorada nos locais públicos, e nós nos divertíamos quando as pessoas diziam que nós fazíamos um casal lindo. Foi com ela que eu ouvi pela primeira vez a expressão "Visibilidade Lésbica". Aquela paixão pela justiça, igualdade, liberdade, ou algo do gênero. Ela olhava as pessoas nos olhos.

No namoro.
Julho de 2006 a Agosto de 2006.
As mãos dadas constantes. Beijos em locais públicos - em quaisquer e todos os locais públicos. O carinho. A força. "Que sentido faz ficar a um centímetro de distância da pessoa e não a beijar? Todos já perceberam mesmo. O beijo não vai fazer diferença." O apoio das famílias. A cabeça erguida ao passear nos shoppings, cinemas, restaurantes. O orgulho. O brilho nos olhos ao sorrir para estranhos pensando "sim, ela está comigo!" Comentar quando as pessoas olham e ficam estáticas. A normalidade.

Na viagem.
Agosto de 2006.
Cidade de interior. Festa cheia de homens. Medo. O mesmo orgulho da capital, apenas com mais cuidado. Mapear o lugar para saber quando sair. Abraços e carinhos. A postura de namorada mesmo com o clima pesado. "Tem policiais aqui, qualquer coisa a gente fica perto deles." Se eu não olhasse os outros nos olhos, eles se sentiriam superiores. Aprendi a olhar como Violeta - algo meio petulante, meio distanciador, mas sempre com muita confiança e segurança. O orgulho de ser diferente (...e sabendo que existiam tantos iguais a mim escondidos na multidão).

Na volta.
Setembro de 2006.
A tranqüilidade. A naturalidade. Sensação de "nada me abala agora". Me sentir normal. Tão normal que não é mais estranho ser normal. Beijar na universidade sem vergonha. Apresentar como "minha namorada". Passear na rua só com minha mãe e perceber que as pessoas me olham torto mesmo quando eu não estou com a menina andrógina dos três piercings no nariz. Ter consciência do que sou, e assumir isso com orgulho. Olhar as pessoas nos olhos e não desviar o olhar antes delas. Rir de mim mesma ao lembrar das vezes em que me senti envergonhada e das vezes em que eu achava que as pessoas não percebiam o que eu era. Abraçar a Violeta e agradecer por ter me libertado do medo de tentar.

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3 Comentários:

Em 12/9/06 12:09, Blogger Violeta disse...

"Seu quase rir ilumina
Tudo ao redor minha vida
Ai de mim, me conduza
Junto a você ou me usa
Pro seu prazer..."


Amo.

 
Em 12/9/06 21:05, Anonymous Anônimo disse...

Maravilhoso!
Amei!
Quem me dera um dia ter a coragem de voces! Ainda tenho medo.. um dia passa...
Beijos! Saudades...

 
Em 12/9/06 21:24, Anonymous Anônimo disse...

Oi, meninas! O blog de vocês está lindo, refletindo exatamente como é o relacionamento de vocês :) Só pude entrar hoje mas já li tudinho! Beijos

 

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