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6.12.06

Mobilidade social

Eu estava pensando na minha vida universitária quando me deu um estalo. A gente estuda, estuda, estuda, para ter empregos melhores e mais bem-remunerados. Ensino médio, ensino superior, especializações, pós-graduações... e é amplamente divulgado que, a cada degrau desses, a chance de salários mais gordos aumenta.
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Enquanto isso, os trabalhos mais mal pagos são os braçais, os que não precisam de estudo. Pedreiros, garis, empregadas domésticas...

Claro, isso faz muito sentido. Se uma pessoa estuda mais, ela pode ocupar cargos intelectuais que não estão disponíveis para quem não tem estudo. E quem não tem estudo se vale apenas do físico. O discurso é que a mobilidade social existe, e se dá através da educação. Mas não sei se isso funciona...

Será que a educação está disponível a todos? Será que uma criança pobre, que mal tem comida em casa, vai deixar de trabalhar para estudar? Ou então, será que uma pessoa pobre que estudou a vida inteira em escola pública vai conseguir passar em um vestibular?

Quanto mais eu pensava, mais eu achava que a mobilidade social é, por enquanto, uma grande farsa. Enquanto não forem criadas maneiras de levar as pessoas às escolas e mantê-las lá, não se pode dizer que temos oportunidades iguais. Enquanto a escola pública for de péssima qualidade, as universidades públicas vão continuar aceitando apenas os ricos que tiveram uma boa educação e conseguiram passar no vestibular. (E faz algum sentido o pobre que estudou a vida inteira em escola pública ter que pagar para estudar em uma faculdade?)

Mais do que isso, me questionei também as "bases". Por que o trabalho físico é menos que o intelectual? Por que um pedreiro é menos do que um engenheiro? Por que a empregada doméstica é menos que a socialite?

Pior que perceber que a mobilidade social não existe é perceber que nosso valor é dado não pelo estudo, nem pelo intelecto, mas pelo dinheiro - e que nada é feito para mudar isso.



[Imagem: Portinari, Café, 1925. Será que mudou algo de lá pra cá?]

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2 Comentários:

Em 6/12/06 18:26, Blogger Clarissa Felipe disse...

Sim, o problema está na base de tudo. Se uma pessoa não receber uma educação de qualidade desde o início, muito provavelmente não conseguirá passar no vestibular e seguir daí...
Daí, o que resta é o trabalho "menos qualificado", porque todo mundo tem que sustentar de alguma forma no fim das contas.

Ninguém é melhor que ninguém não, mas isso é meio difícil de aceitar nessa sociedade baseada em aparências.

Beijos.

 
Em 7/12/06 08:40, Anonymous Anônimo disse...

Post muito coerente. Universidades publicas tem cota para negros, isso não é uma forma de preconceito? Por que no lugar de negros não fazem cotas para pessoas que estudaram na rede publica a vida toda?
Não adianta um ANTA ser presidente e fazer programa para pessoas de baixa renda ir para Faculdade paricular. Como voce disse, o problema esta na base e a BASE NÃO É O ENSINO SUPERIOR E SIM O FUNDAMENTAL E MEDIO. Por isso que votei no Cristovam Buarque...

Caramba... Esses assuntos me deixam tão irritada... rs

 

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