talvez minha vida seja assim

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2.12.06

"Fulaninho é de cor."

Mais mau humor express!

Detesto quando ouço alguém dizer que "fulaninho é de cor", ou seja, fulaninho é preto. Sempre penso: ué, por que o preto é "de cor" e o branco não? Não somos todos "coloridos"?

Não sei se vocês já viram, uma marca de tintas está fazendo uma campanha publicitária com fotos de pessoas muito, muito brancas na frente de paredes coloridas, com o slogan "mudar faz parte da vida". São 6 ou 7 fotos, que vão desde a infância, passando por fotos de adolescentes e casais, até chegar em uma mulher grávida, mostrando uma seqüência "natural" de vida (nenhuma surpresa ter uma mulher grávida, não?).

As fotos são lindas, mas não dá pra não pensar: estamos no Brasil, um país super misturado de cores e formas, e uma campanha dessas utiliza modelos brancos-quase-albinos, daquele tipo que a gente quase não vê nas ruas - pelo menos não aqui pelo Centro-Oeste. Não é curiosa essa escolha?

Quando bati o olho nessa propaganda a primeira vez, pensei na hora na expressão "fulaninho é de cor". Ou seja, se o preto é "de cor", o branco é "não-cor". Um "não-cor" que é valorizado porque é tido como o padrão, a tela em branco pronta para ser pintada. O branco é o padrão, o natural, o europeu conquistador (superior?), enquanto os "mestiços" e os pretos são derivações do branco, misturados, "sujos", os povos "primitivos" das Américas e da África.

Sendo assim, em uma campanha publicitária de tintas, a escolha óbvia vai ser a pessoa branca. Assim como a parede branca, ela vai dar a idéia de "não-cor", sendo suscetível às mudanças da vida (no caso, um galão de tinta). E não é engraçado que essa sensação exista? Afinal, cá pra nós: eu nunca vi uma pessoa branca que fosse efetivamente branca, cor de papel A4. Mesmo o ser humano mais branco tem uma coloração (pigmentação) em sua pele. Mas nós somos treinadas para enxergar as pessoas amareladas, rosadas, beges, etc. como "brancas" e, portanto, de "não-cor". Da mesma forma, todos os tons de pele mais vermelhos e marrons são colocados na categoria "de cor".

Amarelos, cor-de-rosa, beges, vermelhos, marrons, azuis. No fim das contas, não somos todos "de cor"?

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9 Comentários:

Em 2/12/06 19:56, Blogger Violeta disse...

assim fica fácil né, uma parte da população padroniza tudo, você tem que ser branco (não-cor), hetero, de preferencia homem... e todo o resto que não é padrão sofre as consequencias dessa dominação por força.

quando todo esse "resto" resolver se revoltar, o mundo entra nos eixos!

=*

 
Em 3/12/06 10:18, Anonymous Anônimo disse...

vc sabe que eu sou uma menina de exatas, né? :P então, pra mim, "não-cor" é preto. e branco é a junção de todas as cores. e viva a melanina, que não me deixa ardida nesse sol infernal que anda rolando \o/

 
Em 3/12/06 23:49, Blogger Lisa disse...

Acho que ainda nesse panorâma que eu acho ignóbil de "classificar" as pessoas, existem aquelas expressões tais como "afrodescendente" que tentam "eufemizar" a coisa.

O nosso problema nem é o palavreado: é a necessidade de rótulos.

Abraços

 
Em 4/12/06 09:30, Anonymous Anônimo disse...

Esta ai um post que estava faltando... Nunca tinha lido nada sobre esse tipo de preconceito... Tipo assim... como somos todas "entendidas" procuramos falar desse tipo de preconceito, que é o que nos atinge mais (talvez, em alguns casos) e esquecemos de como as coisas lá fora andam... Como estamos sujeitas o tempo todo a termos rotulos... Caramba...

 
Em 4/12/06 10:42, Blogger Sara disse...

tenho ódio sabias?
aqui felizmente não rola tanto isso..pq a maioria é pé rachado no mínimo amarelado tendendo pro moreninho..

minha família é de preto, sou a única amarela, e tenho orgulho disso...da minha véia negona azulada da pele limpa e sem rugas. x)


bjocas

 
Em 4/12/06 15:25, Blogger Orquídea disse...

É Sarox, eu sou dessas também.

Família da mãe branca, família do pai preta. Meu irmão, que "puxou" ao meu pai, tem consciência negra. Eu, que nasci branquela, tenho orgulho das minhas raízes, apesar de não poder dizer que sei o que é ser negra (afinal, nunca passei por nada do que eles passam...)

Nós temos tanto preconceito internalizado que a gente nem percebe. Fui me tocar há pouco tempo que, se eu não falasse que meu pai era negro, ninguém iria pensar nessa possibilidade antes de conhecê-lo. Imagina, uma filha branca, de classe média, casa boa, carro novo... é claro que o pai vai ser branco!

Beijos a todas, (é sempre bom ler as opiniões de quem passa por aqui!)

Orquídea

 
Em 4/12/06 17:25, Blogger KaKa disse...

Odeio rotulos, e pior que isso so qlqr tipo de preconceito!
Sim somos todos cor, eu por exemplo sou uma de burro fugido, kkkkkkkkkkkkkkkkk Antes de fazer um comentario racista a pessoa podia parar e pensar ne!?

 
Em 5/12/06 00:04, Anonymous Anônimo disse...

Eu sei bem o que é isso...Lesbica,negra,mulher...um bombardeio de preconceitos...vc acredita que dentro da universidade fui super criticada pq nao admiti que um professor me chamasse de "moreninha"?Disse a ele:
-professor nao sou moreninha...onde o senhor ta vendo a morena?sou Negra!
Tenho maior orgulho da minha cor,mas sofro com a hipocrisia racista que rege nosso país...Mas...paciencia!Amei o espaço viu bjao!

 
Em 9/12/06 16:42, Blogger Marcelo disse...

Em matéria de propaganda e de cores, legal mesmo era a United Colors of Benetton.
Mas as pessoas tem um certo fetiche em classificar, ordenar e padronizar as outras pessoas. O pior ainda é quando dão escalas de valores para a hierarquia que inventam, daí têm verdadeiros orgasmos fascistas...

 

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