talvez minha vida seja assim

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26.12.06

Não, eu não sou discreta.

Eu não sou discreta. E não quero ser. Sou feliz assim, com um "gay" escrito na testa. Namorando no shopping, comprando presentes de Natal com a namorada. Passando o Natal com a família da namorada. Andando de mãos dadas. Me sinto normal assim. Por que deveria ser diferente? Homens beijam mulheres em público. Eu também quero beijar a minha.
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Logo que minha mãe me assumiu para tios e tias, ela ouviu uma enxurrada de "fale para a Orquídea ser discreta, afinal, o mundo é cruel!". Mais cruel, para mim, é perder minha vida me escondendo. Escondendo o que sou para o mundo. Escondendo a verdade de mim mesma.
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O Amor deve ser celebrado, dignificado. Não oculto e vergonhoso. Eu amo, assim como tantos outros amam, e beijam, abraçam, trocam carinhos. Eu também quero trocar carinhos. Por que isso me é negado?
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Desconsiderei os apelos de meus tios. Se é para sofrer com o preconceito, prefiro que ele seja esfregado na minha cara. Não agüentaria a sensação de sufocamento ao saber que todos presumem, falam mal pelas costas, riem de mim, sentem pena do meu "desvio". Eu não tenho um desvio. Eu estou bem desse jeito, e quero que todos saibam disso.
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Lésbica? Sim, eu sou. A única da família, mas isso não me deixa tímida. Isso me dá coragem para vestir a roupa de "diferente", "sapatão", "esquisita", o que mais quiserem. Desde que saibam. Desde que eu diga, na cara deles, que essa é a vida que eu escolhi para mim, e eu a amo. Não a trocaria por nada, nem por um homem, nem por um casamento, nem por aceitação social. Eu adoro o mundo gay. Eu adoro amar outra mulher. Eu adoro me sentir livre de padrões heterossexuais. Eu adoro as baladas gays. (os héteros são normais e chatos, pra mim. entediantes.) Eu adoro a bandeira do arco-íris.
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Eu gosto da subversão, do inverso, do inusitado. Quero quebrar as correntes que me prendem num gênero único e certinho: "você é mulher, usa salto, gosta de cor-de-rosa, sonha em casar de branco e ter filhos loirinhos". Eu quero gritar a todos que eu existo, assim como tantas outras, e que nós somos felizes assim. Que nós somos normais. Para que um dia não exista mais armário nem militantes, apenas igualdade e respeito.
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Mas isso não acontecerá se formos todos discretos. Invisíveis. Inexistentes. A sociedade nunca mudará se nós continuarmos escondidos, marginalizados, desconsiderados. Seremos sempre a minoria negada, facilmente jogada para debaixo do tapete. Apagados dos livros de história.
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Quero aparecer, quero mostrar que existo, e quero dar a cara à tapa: quem tiver algum problema comigo que fale na minha frente, pois eu assumo o que sou para você. Por que isso te incomoda? Não vou ser discreta. Quero abalar as estruturas. Quero derrubar os preconceitos. Quero que as pessoas se sintam incomodadas, afinal, quem sabe assim elas olham para além de seus próprios umbigos. Quero uma revolução. Não vou me esconder.
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E quem tiver essa flama acesa dentro de si, tome a dianteira também. Vá para a linha de frente, alguém tem que fazer esse papel. Assuma. Lute contra seus próprios medos e preconceitos, eles nos matam mais que os externos. Seja você. Contagie outros a sua volta. Liberte-se. Vamos mostrar ao mundo a que viemos - e não, eu não vim ao mundo a passeio, nem para jogar minha vida no lixo enquanto outros aproveitam as suas. Quero amar, ser amada, ser respeitada, ser normal. E para isso faço minha parte. Você já pensou em como pode fazer a sua?

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7 Comentários:

Em 26/12/06 18:52, Anonymous Anônimo disse...

Oi!
Olha, eu sinto que na minha familia, as pessoas são falsas, elas chegam se fazer de boazinhas. Isso não acontece com tios nem com primas, e sim minhas irmãs, domeu mais puro sangue, cochichando, soltando piadinhas, pelas casa. Eu me sinto sozinha assim, me sinto muito solitaria.
Minha ex namorada se escondia, me escondia, do mundo, de todos, tinha medo de sair na rua comigo. Eu me sentia mal, e me sentia presa.
Hoje com a minha mulher, sei que agimos naturalmente, vamos na lanchonete, sorveteria, shopping, nos beijamos, fazemos carinho. Nada obsceno, mas acho que demonstração de carinho não atrapalha as outras pessoas, eu tenho tanto direito qnto os casair que terrivelmente ficam quase "transando" pela rua, o que acho ridiculo. Agora não vejo mal algum em andar me mãos dadas com a minha mulher.
Precisamos nos libertar, e tomar posturascorretas, e isso que penso.
Não ligo muito pra lutas, mas luto quando levo minha vida naturalmente sem me sentir estranha, não deixo que as pessoas me façam isso.

É isso, acho que eu deveria ter direito a post neste blog, rsrs.

Beijos!

 
Em 26/12/06 20:51, Blogger Violeta disse...

=~~
Morro de orgulho!

Acho que se cada pessoa que tivesse o mínimo de apoio tomasse a frente e se mostrasse, a situação seria bem diferente.

=*=

 
Em 26/12/06 23:53, Anonymous Anônimo disse...

Bravo!!!!!!!!Tenho que mostrar este texto a minha namorada!So assim ela desencana mais...bjao vc ta de parabens!bjusssss

 
Em 27/12/06 12:15, Blogger Clarissa Felipe disse...

Fale mal de mim, fale o que quiser de mim...rs

Isso mesmo. Cada um tem que ser como é. E fazer o que dá vontade. Assim mesmo, na cara, porque é tudo da lei, né?

Continue sendo assim, verdadeira consigo mesma, a felicidade está aí.

Beijo. Feliz Ano Novo.

 
Em 27/12/06 14:37, Blogger Marcelo disse...

Espero que você compreenda que o comentário a seguir pressupõe que não nos conhecemos, que não temos intimidade para que eu possa falar assim, e que, também, é no bom sentido e com o maior respeito possível; e que, se você não entender, paciência, eu tinha de dizer isso:
BÀ, TU É FODA!!
Era só isso.

 
Em 27/12/06 16:07, Anonymous Anônimo disse...

então... nao sei se nas andanças pela internet voces por acaso viram esses vídeos, mas eu acho interessante e recomendo

http://youtube.com/watch?v=yRbI3tesoxs

http://youtube.com/watch?v=1dYghkn5Crw&mode=related&search=

se nao abrir, procurem no youtube "ilga" associação ilga de portugal, e nos vídeos do lado tem um que se chamo love is love, tem tb o da adoção que é interessante...

beijos
até

 
Em 1/11/07 16:46, Anonymous Anônimo disse...

Adorei o que escreves-te. Sinto o mesmo que tu.
EU ja fui apontada, falada e rejeitada tantas vezes.
Tenho 15 anos a caminho dos 16 e já sou lésbica há 4anos :)
No inicio custou-me a habituar, mas hoje sou feliz com a minha namorada e com um orgulho gay sempre presente.

Parabéns por seres mais uma das minhas inpirações dos meus poemas :)

beijinho para sim.

ah! sou portuguesa e chamo-me cátia =)

beijão

 

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