Quando a mãe da Violeta ouviu pela primeira vez de sua filha que ela gostava de mulheres, um pensamento pairou em sua cabeça: "Puuutz, ela vai sofrer muito!"
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Esse pensamento vai e volta, e imagino que muitas outras mães fiquem com o coração apertado por suas filhas (tá, vamos excluir aquelas mães que só pensam no próprio sofrimento). "A sociedade é cruel", "ela vai ser xingada na rua", "ela vai sofrer discriminação de todos os lados"... É, não é mole não. Em um país onde a cada dois dias um homossexual é assassinado, essas mães realmente têm por que se preocupar.
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Eu, como lésbica assumida e como a questionadora, chata e cri-cri que sou, parei para pensar sobre isso.
"A sociedade é cruel", é verdade. Já recebi olhares
feios, já ouvi cantadas, já ouvi xingamentos, já fui maltratada e até bem-tratada
demais. Mas o que me abalou de verdade foram o amor e a amizade, não o ódio.
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Eu sei, eu sei, isso foi piegas, mas eu não consigo explicar de forma melhor. O cara te xinga na rua? Você xinga de volta. Os machos passam de carro te olhando como se você fosse um suculento pedaço de carne? Você dá o dedo para eles, ou
chuta o carro, sei lá. Dá raiva, deixa a gente indignada, mas passa.
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O que fere mesmo são as pessoas de perto. Os amigos, os amores. Pessoas que nos conhecem, em que nós confiamos, que (querendo ou não) criamos expectativas. Convivemos, fazemos planos, choramos as mágoas. Somos nós mesmas. E que, um belo dia, dizem: "me senti incomodada com você e sua namorada." "Vocês não podiam ser mais discretas?" "Eu não quero ser vista com você porque não quero que as pessoas falem da minha vida." "Me senti desrespeitada por você parecer lésbica na frente de meus novos amigos". "Você não entende como é difícil ser enrustida." Ah, pois eu entendo. Nós duas entendemos. E tudo que nós queríamos, quando estávamos no armário, era que alguém tratasse a homoafetividade como algo comum, normal. Depois de tudo que ouvi, começo a achar que éramos as únicas que pensávamos assim.
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Hoje eu tenho certeza de que o que machuca mesmo, o que nos fere, são as pessoas que amamos. As que nos odeiam e nos agridem gratuitamente são facilmente esquecidas. As pessoas a quem nós nos entregamos, bem... essas deixam marcas que não saem tão cedo. E é por essas, apenas, que eu concordo com as mães mais angustiadas - sim, nós vamos sofrer muito. Mas olha, eu digo por mim: eu não trocaria essa vida por nada.
Marcadores: escrito por Orquídea, vida pública
4 Comentários:
A sociedade é cruel.
that's what it is all about!
prazer
A sociedade é cruel, mas não tão cruel quanto àqueles que usam máscaras na nossa frente...
É difícil, a gente sofre, a gente se entrega, e se machuca. Mas quer saber? Vale à pena porque amamos do jeito que queremos, e somos amadas. Também não trocaria.
Beijinho.
DUAS PALAVRAS
NEM EU
=)
Concordo plemanemnte... as pessoas podem me xingar do que quiserem, fazer cara feia, não ligo. O que dói e não ter a aprovação da família e perceber que alguns amigos passam a te tratar um pouco diferente... essa é a parte mais difícil!
Beijos
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