talvez minha vida seja assim

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29.11.06

1o dia de re-namoro

A cena: Violeta e eu, à noite, sozinhas no quarto, jogadas na cama e mortas de cansaço.

- Quero coca-cola light.
- Acho que acabou na geladeira.
- Putz, tem que buscar lá embaixo?
- Tem. Você vai lá?
- Eu não... tem pessoas transando lá.
- Não tem mais não. As pessoas que estavam lá estão nessa cama agora.
- Ah é.



(Em tempo: tesão existe de novo.)

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Do casamento para o namoro

(Não, nem toda lésbica quer casar no segundo encontro.)

(Uma amostra do que acontece 4 meses depois de duas namoradas resolverem se "juntar" com 1 mês de namoro, apenas porque eram melhores amigas antes.)



Orquídea:
Bebê, não sei se vou dormir aqui amanhã. É só que... a rotina tá me matando. Tesão nenhum. E isso me incomoda, porque eu não sou assim! E de uns tempos pra cá eu tô morta, não sinto nada, vontade de nada. E o tesão pra outras coisas ainda existe. E sei lá... eu adoro dormir contigo, e acordar contigo. Muito. Mas parece que a nossa tensão sexual acabou. É muito fácil ir para as festas nos fins de semana, ficar naquela tensão a noite toda, chegar em casa e transar loucamente. Mas quando estamos as duas o tempo todo juntas, sei lá, a tal da tensão sexual não existe. Parece que a gente não consegue criar um tempo só pra gente, sabe? Pra ficar junto, longe do computador, TV desligada, luz apagada, só nós duas, se "fofinhando". A gente não consegue mais criar aquela tensão sexual de antes... parece que a gente pulou o "namoro" e foi direto pro "casamento". E isso me dá muito medo, porque eu não tenho condições emocionais de segurar um casamento agora... eu ainda estou muito instável, e com o coração muito machucado pra conseguir levar uma coisa tão séria. Ainda mais agora, quando eu tenho certezas tão fortes sobre compromisso e responsabilidade com a outra pessoa... e, mais ainda, quando essa "outra pessoa" é a minha melhor amiga. Não quero te machucar de jeito nenhum... mas acho que assumindo um compromisso tão grande quanto esse casamento em que nós estamos, eu vou acabar te machucando. E é foda, porque eu vejo a gente dar muito certo! Muito mesmo! É tudo perfeito, a gente se merece. Eu não vejo nenhuma razão pra gente acabar, a não ser se a gente se esforçar muito pra dar errado ou se a gente se descuidar. E eu não quero que a gente se descuide agora... É até ridículo. Eu sei que tudo é perfeito, nossas famílias são perfeitas, e eu sei que todos os fatores externos contribuem pra gente. Mas às vezes eu desespero pensando que eu não sei se internamente tá tudo bem, sabe? Se eu to preparada pra isso, se eu gosto de ti o suficiente. Mas aí rola uma reunião como aquela do domingo passado, e tinham meninas lindas lá, inteligentes, fodas. E só o que eu conseguia pensar é que estavas demorando pra chegar. Todas lindas, mas nenhuma que eu quisesse comigo. E quando chegaste, eu pulei em cima de ti, te abracei e queria estar junto, muito junto, morrendo de orgulho de seres a minha namorada. E lá eras a mulher mais linda, a mais inteligente, a mais incrível de todas, e era contigo que eu queria estar de braços dados. Aí eu vejo que na realidade o problema não é gostar de mais ou de menos, mas a insegurança e o medo. Eu gosto muito de ti, mas não sei se consigo levar um casamento tão cedo... sei lá... sinto falta de namorar, da expectativa...

Violeta:
Oh bebê, e você acha que eu queria casar? Eu sou a que nunca imaginou sair de casa, muito menos casar, aos 19. Adoro dormir e acordar contigo também, nunca imaginei que fosse ter isso com ninguém. Mas não quero que durmas comigo pela obrigação de dormir, quero que a gente durma junto porque as duas querem. Se quiseres, podes dormir na tua casa amanhã, e eu aqui. Quer rir? Eu estou muito aliviada de estares falando isso. Tira uma responsabilidade enorme nas minhas costas... Também sinto falta de namorar, de ir pras festas e achar a gente um casal foda. De repente é só isso que está faltando pra gente... nenhuma de nós duas tem estabilidade emocional pra estar num casamento agora. A gente volta a namorar, pode ser?

Orquídea:
Sim! Só uma coisa... posso dormir aqui contigo amanhã?

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26.11.06

O jantar

Ano passado eu trabalhei em um festival de música na universidade. Falei com as pessoas importantes que eu estava interessada em trabalhar e me ligaram da produção uns 2 dias antes do início do festival. Todo aquele contato por telefone, conversei com algumas pessoas, combinaram o horário. Apareci lá, conheci outras com quem ia conviver por duas semanas, fiz o que tinha que fazer e fui para o concerto de abertura.

Chegando lá fui apresentada àqueles com quem tinha tido contato por telefone. Um homem levemente grisalho e uma mulher linda. Não, acho que não dei a entonação que deveria dar. Uma mulher LINDA. Foda. Cacete, como pode alguém ser tão linda? Ela sorriu com a boca e com os olhos ao dizer "prazer" e eu fiquei estática, sem conseguir desviar o olhar, e não devo ter sido nada simpática ao responder um "prazer" obrigatório e mecânico, sem qualquer expressão facial.

Durante as duas semanas de festival, eu tinha a maior dificuldade em conversar com ela e passar informações e dados. Ficava hipnotizada. Aqueles olhos claros (verdes?) me atravessavam como se soubessem o tanto que meu coração disparava só de estar perto dela. Sempre que ela estava por perto, eu me sentia um menino na puberdade.

xxx

Ontem fui jantar com umas amigas bichas. Amigo de fora da cidade por aqui, a gente precisava se encontrar pra fofocar horrores. Fui ao hotel, busquei o amigo-de-fora, fomos conversando e rindo o caminho inteiro até chegarmos no apartamento da bicha-que-estava-oferecendo-o-jantar. Tocamos a campainha, fomos atendidos, "ai bein, que luxo que você tá! Arrasou!", entro no apê e lá está ela, a mulher linda, sentada em uma poltrona, com seus olhos mais do que penetrantes. Choque, um centésimo de segundo sem respirar. Caralho, ela é linda como eu lembrava. Respirei fundo, fui até ela: "oi, tudo bom? Quanto tempo!"

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22.11.06

"Mas ela nem parece lésbica!"

Eu acho curiosíssimo como algumas pessoas, ao conhecerem uma lésbica feminina/lady, perguntam: "mas ela é lésbica mesmo?"

E acho mais curioso ainda que essa pergunta sequer é cogitada no caso de a lésbica ser masculina/butch. "Óbvio que essa é sapatão!"

Por que essa noção de [masculina=exclusivamente homossexual] e [feminina=hétero ou bissexual] está tão impregnada nas pessoas?



"No século XIX, alguns médicos e psiquiatras atuam como experts nos tribunais e à noção de crime alia-se a idéia de doença: fora da conjunção carnal heterossexual os comportamentos sexuais passam a ser doentios, criminosos, além de desviantes. Para encontrar a homossexualidade feminina em certos tratados era preciso buscá-la entre os canibais, os zoófilos, necrófilos, coprófagos, estupradores, assassinos passionais, manifestações estas classificadas em conjunto como "psicopatologia sexual". Mas a constatação de que as lesbianas eram fêmeas humanas perfeitamente constituídas fisicamente, nos casos estudados, levou à criação da idéia de desvio, da doença, enquanto teorias explicativas de suas preferência sexuais. Por que, senão, como instituir a preferência heterossexual como "natural"?

Cria-se a representação da "homossexual inata", na qual as preferências sexuais estariam inscritas em seus genes, degenerados, criando assim uma predisposição incontornável. Doentes física e mentalmente, portanto. Essas idéias tiveram um campo de recepção extremamente favorável (...). No ano 2000 ainda vemos um resquício dessa noção da divisão entre as "verdadeiras" lesbianas, as que sempre o foram, e as outras, bissexuais, ex-casadas etc."

(Retirado do livro "O que é lesbianismo", de Tania Navarro-Swain. Grifos da autora.)

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21.11.06

Receita anti-stress

Para acabar com o stress do seu dia você precisa:

-um carro com 3 machos dentro passando na sua frente e te olhando com "aquela" cara.

Como fazer:

- Encare os machos enquanto eles passam na sua frente lentamente e te secam.
- Quando o carro passar, chute com muita raiva (junte toda a sua raiva desse mundo machista) a traseira do carro.
- Quando eles pararem e começarem a te xingar, mande-os pra p$%&@# e saia andando calmamente.
*Se achar necessario pode utilizar gestos enquanto estiver indo embora.


Após esta atividade, você verá como se sentirá melhor e recuperada do dia stressante!

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20.11.06

Militância

Eu nem devia estar falando isso. Afinal, nunca nem cheguei a entrar em qualquer grupo militante de qualquer coisa. Esse assunto é especialidade de Violeta, não minha. Mas não consigo ficar sem falar.

Eu acredito em algumas coisas. Justiça, igualdade, respeito. Todos devem ser tratados do mesmo modo. Às vezes também em amor e carinho, mas isso vale mais para bichos do que para pessoas (olha só que mundo mais louco). E, não sei bem por que, um dia surgiu a vontade de fazer alguma coisa. Qualquer coisa, ajudar de alguma forma. E essa vontade começou a me consumir... queimando por dentro, quase como uma obrigação. Fui ajudada por tantas pessoas, das mais variadas formas, e é uma verdade gritante para mim que eu deveria retribuir isso de algum jeito.

Procurei. Fui atrás, perguntei. Escrevi. Telefonei. Me pronunciei, "estou disposta". "O que eu posso fazer?"

A resposta nem sempre vinha. Silêncio. Ou então, "entraremos em contato". Ou ainda: "espera que qualquer dia a gente vai ter uma reunião! Eu te chamo!"

Mas as reuniões nunca vinham. E eu esperei.

Cada dia a vontade me consome mais. Não sei pra que lado ir, por onde começar. Não me sinto acolhida em nenhum lugar. Não acredito que não existam outras pessoas como eu - mas onde estarão elas? Não vejo as organizações absorvendo essas pessoas. Chamando para perto e falando "que bom que vocês vieram, precisamos de alguém que faça isso, isso e aquilo." Não. Ninguém te recebe, você não é bem-vindo.

Quem poderia fazer alguma coisa tem medo. Não medo de fazer, mas medo de expandir. Medo de "contaminar" as pessoas ao redor com uma onda de bem, de mudança. Medo de confiar no outro e esse outro tomar seu lugar depois. Medo das próprias pessoas que você deveria estar ajudando...

Paulo Freire sempre falava do "amor". Não apenas do amor à causa, mas o amor às pessoas. Você deve amar muito as pessoas que quer "atingir", porque na realidade são elas que vão começar a mudar o mundo. Não você, sozinho, do seu pedestal, gritando certezas e ideologias. E sim os silenciados, os que sofrem, os que não sabem que podem. São essas pessoas que precisamos amar e confiar para que elas mudem a situação delas e, por conseguinte, do meio ao redor.

Mas na militância isso não acontece. Há arrogância, orgulho, inveja. Medo do próximo. Ganância. Os grupos começam querendo ser diferentes e logo em seguida se tornam escravos da própria fama. Qual o objetivo? Por que tudo começou? Para você ser conhecido e famoso em um pequeno grupo de pessoas? Para mim, isso soa mesquinho.

Queria encontrar um lugar. Um lugar onde essa "onda do bem" fosse incentivada, onde as pessoas confiassem umas nas outras. Onde a diversidade não fosse só bandeira, mas onde ela existisse e fosse valorizada.

Hoje, quase 1 ano após minha primeira vontade de mudança, vejo que minhas realizações mais visíveis e duradouras foram um blog virtual e um grupo de gatos que vive na minha rua (e que hoje têm carinho e comida).

Não é pouco para 1 ano? Não tenho dúvidas de que é, sim. Mas não sei mais para onde ir. Os lugares onde eu chego estão fechados, restritos. Os importantes continuam em seus pedestais. E eu, que tanto quero fazer algo, fico presa em casa, escrevendo em um blog. Sem idéias. Sem uma direção.

Para onde ir?

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19.11.06

Televisão

E ontem, assistindo ao seriado que eu mais gostava quando eu era mais nova, percebi que minha personagem favorita era a sapata.

(Tá, ela não era sapata, mas ela tinha todo o jeitão.)

Por que ninguém me disse antes o que eu era?

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12.11.06

Nunca escrevi pra você, né?

Eu gosto da Violeta porque ela é ela. Ponto.

Ela é tão ela, e tão cheia de si, e tão cheia de certezas. (tá, a gente sabe que isso não é bem assim, mas pro resto do mundo ela é só certezas.)

E eu gosto muito do jeito dela de ser ela. Parece uma criança que não se importa com as reações dos outros. (ou talvez uma criança que nem espera mais que o mundo seja simpático.)

Ela é chata. Implicante. Orgulhosa. Está sempre com a razão (ou acha que está). Muitas vezes, pessimista. Outras tantas, é só um gatinho que precisa de colo. Está sempre usando uma armadura. Quer parecer forte para o mundo. Crítica demais.

A gente se parece tanto que às vezes os orgulhos e implicâncias trombam. Mas eu me reconheço nela - e acho que ela em mim - e aquilo que eu não encontro de mim nela são as coisas que eu mais admiro.

Te gosto por você ser você. Assim, chata e linda, crítica e carinhosa, e também por ser a pessoa que me dá o braço para eu dormir. Te gosto porque eu acordo dos pesadelos e você me promete que as coisas ruins nunca, nunca, nunca vão acontecer, e eu acredito. Te gosto porque eu posso acreditar e confiar em ti. E gosto porque eu sei que vais terminar de ler isso e me dar um abraço bem gostoso, daquele jeito que só tu sabes dar.

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8.11.06

Casamento

Gosto mas não gosto. Na verdade, nunca achei que fosse acontecer - eu seria independente, bem-sucedida profissionalmente e jamais dependeria de um homem.

Aí um dia eu acordo e estou dormindo com a mesma mulher há meses. É, você casou. E não, você não depende de um homem. Algo muda?

Não sei qual a diferença. Eu gosto, e muito, de estar "casada". Tá, a gente não tem uma casa, mas a gente vive junto. Come junto. Dorme junto. E acorda, o que é mais importante que dormir. E eu, que sempre tive as piores referências de casamento, de repente me sinto confortável e tranqüila em um.

Sou uma pessoa de altos e baixos. Não sei se é a rotina, se é a calmaria, ou se é só porque está tudo muito bem. Mas me sinto triste.

Peço para ela para dormir sozinha essa noite. Ela diz que tudo bem, não quer me sufocar. Fico na minha casa, frustrada, incomodada com algo que nem eu sei o que é. E eu sei que, mais tarde, é para a cama dela que eu vou correr querendo aquele colo quentinho.

Não sei o que acontece comigo...

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