talvez minha vida seja assim

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30.1.07

A gente trabalha muito mas se diverte!

Mais uma noite inteira no trabalho e vários motivos para boas risadas! (Pra quem não sabe trabalho numa empresa que funciona 24h por dia então temos plantões das 19:00 às 07:00...)

Com o tempo, depois de deixar claro pra todo mundo que você é lésbica, você acaba descobrindo quais dos seus companheiros de trabalho são totalmente abertos a homossexualidade e quais ficam tensos com o assunto. Assim, o plantão de hoje é motivo de felicidade já que "dormirei" (ui ui ui!) com o médico que conhece Orquídea (é médico dela inclusive), sabe de tudo da gente e é super de boa, além do outro cara que divide o posto comigo até 01:00 e é super gente fina também (enrustido na minha opinião...).

O plantão começou com o médico perguntando sobre Orquídea, se ela estava bem e tudo mais. As coisas meio corridas, atende telefone aqui, manda ambulância lá, socorre que tá morrendo... Quando as coisas acalmaram voltamos a conversar e me perguntaram sobre a sogra, falei da mudança, do apartamento novo e ai estávamos falando de relacionamentos anteriores e citei o fato de ter ido parar na delegacia por causa de uma menina. Todo mundo ri, sendo eu a mais nova ali era a que tinha a história mais louca.

O assunto termina com uma das outras médicas, linda, diga-se de passagem, entrando na central telefônica e todos rindo, pois nenhuma outra pessoa teria permissão pra ficar lá, mas quando é que com AQUELA equipe na central ela seria expulsa?! Talvez em outra encarnação!

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23.1.07

Mais notícias da vida nova

E tudo continua indo muito bem. Já temos fogão (e gás! aliás, tivemos toda a sorte do mundo com um cara muito bacana que se ofereceu pra carregar um botijão de 13kgs escada acima... ai, nessas horas até dá alívio de ser uma menininha indefesa e fraca), temos promessas de geladeira e até microondas. Enquanto isso, nos viramos sem maiores problemas com um frigobar emprestado pela minha mãe. Quanto à TV, vivemos de DVD, já que estamos sem antena - e sem TV a cabo. A pior parte é também a mais óbvia devido a falta de atualizações constantes desse blog: estamos ainda sem computador, e portanto sem internet. Bolotas.
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As famílias andam tranqüilas. O lado da Violeta não surtou, o que me espantou, já que eles são super próximos. Na verdade, eu to esperando o surto até agora. Já o meu lado, que eu achei que não fosse ligar muito para a mudança porque eu sempre fui "muito independente", como diria minha mãe, reagiu de maneira oposta. A semana da mudança em si foi estressante e cansativa, e a gente nem colocou nada aqui de tão esgotadas que ficamos. Resumindo: minha mãe decidiu fazer tudo por nós. Parece cômodo, mas não foi tão legal assim - ela me ligou numa manhã quando eu estava na casa da Violeta e disse "olha, não vai dar pra vocês dormirem aqui essa noite porque o marceneiro já desmontou o armário e a cama". Ahn? Marceneiro?, que marceneiro? Chegando mais tarde na minha (ex) casa, encontrei todos os meus livros, CDs, DVDs e bugingangas empacotados. Imaginem muita raiva e invasão: foi como eu me senti.
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Passado tudo isso, estamos eu e Violeta em lua-de-mel. Minha mãe me liga todo dia para contar as novidades (nossa, minha mãe tem novidades! como assim?), a gente almoça de vez em quando em uma casa ou outra, assiste DVD do House (o seriado que a Violeta me viciou, assim, sem escrúpulos), faz pão de queijo, briga com os gatos (aliás, eles foram castrar hoje), vai pra boate 1 da manhã, faz supermercado e compra a Playboy (tá, eu odeio a Playboy, mas o mundo é cruel e a carne é fraca...), leva carro pra revisão e, pra não dizer que o casamento tá completo, a gente transa muuuuuuuuuuito. E como a gente é pop e sempre tem alguém metendo o bedelho nas nossas vidas, ainda temos uma anônima falando mal de mim no fotolog da Violeta. É mole?
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De resto, tudo ótimo. Violeta trabalha e eu arranjei o melhor trabalho de férias do universo - estou sendo paga para cantar em um coral, todos os dias, com um regente alemão, por duas semanas e meia. Tinha como ser melhor?

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16.1.07

e vamos indo!

Quase uma semana de casa agora, várias saudades, até o corpo sente as diferenças... Mas acho que nunca nos divertimos tanto sozinhas!

Estavamos sem tempo uma pra outra, era o trabalho, os gatos, a mãe que batia na porta, o computador, a televisão, o almoço em casa... Acabavamos tendo pouco tempo, nos estressando quando estavamos juntas, brigando e nada de sexo...

Mas agora, como o tesão voltou e com ele a disposição, além de estarmos sozinha, declaro aberta novamente a temporada de sexo louco e que faz perder a hora dos compromissos!!

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11.1.07

Vida nova!

Mudança pronta. Primeiro dia no apartamento hoje.

E agora José?!

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9.1.07

História de ninar para lésbicas complicadas

Era uma vez uma menina que nunca havia se entregado para ninguém. Com medo de se machucar, ela havia se fechado em uma casca por toda a sua vida. Em vez de pessoas, ela amava os animais - estes não a machucariam. E essa proteção funcionou por muitos anos. Para efeitos práticos, vamos chamá-la de Vera.
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Era uma vez outra menina, que havia se entregado demais (essa será chamada, a partir de agora, de Olívia). Corroída, usada, desprezada, essa menina morria de medo de sofrer de novo. E se protegia escondendo todas as suas fraquezas para parecer forte e satisfeita com sua vida.
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Um dia essas duas meninas se apaixonaram. As proteções e os orgulhos de início não atrapalharam. Tudo ia muito bem, cada uma pensando que estava mantendo o controle da situação. (Aliás, a necessidade de controle dessas duas era muito grande.) Até que um dia elas brigaram.
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Olívia, ao conhecer o imenso mundo dentro de Vera, se assustou. Ela não conseguiu esconder suas fraquezas, seu desconhecimento, seu estranhamento. Sentindo-se pequena e ignorante, repeliu Vera por medo de que ela a achasse desinteressante e burra e desejasse se afastar de vez.
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Vera, vendo-se finalmente despida de suas proteções, se percebeu vulnerável e desvalorizada. Sentiu como se seu mundo fosse desimportante para a outra, e ficou diminuída, triste, incrédula. Com medo de Olívia achá-la chata e desestimulante, fechou-se de novo em sua casca com toda sua mágoa e angústia pela expectativa de ser descartada. E, assim, as duas esperaram o término.
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Decidida a não sofrer de novo, Olívia (que já havia chorado, e gritado, e quase batido o carro) falou que não via motivos para as duas ficarem juntas. Vera, que sempre havia sido inabalável, chorou. Elas brigaram, gritaram, choraram e descontaram todos os medos e expectativas uma em cima da outra. Nessa noite, o namoro quase acabou.
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Depois que todas as emoções surgiram e foram embora, o que ficou foi a sinceridade. Tudo aquilo tinha acontecido, na verdade, pelos medos e orgulhos das duas. Envergonhadas, mas ainda machucadas, elas decidiram passar por cima daquilo. Vera foi para a casa de Olívia de madrugada. Elas se beijaram, declararam seu amor uma pela outra e dormiram juntas. E acordaram juntas no outro dia, e no outro, e no outro, e no outro, e no outro, e no outro, e...
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* Os nomes foram trocados para preservar a identidade das pessoas envolvidas na história.

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7.1.07

Os mitos e suas influências no mundo moderno

Há milênios o homem constrói mitos. Explicações para fenômenos da natureza, surgimento da vida, a morte. Muitos mitos continuam visíveis no nosso dia-a-dia; alguns como fábulas para crianças (por exemplo, a cegonha que traz os bebês), alguns como verdades absolutas para adultos (vide livros religiosos). A importância dos mitos é indiscutível: eles ajudam a delinear códigos de conduta, papéis individuais, costumes e rituais de uma sociedade. Por tamanha relevância, é válido questionar: qual o lugar da mulher nos mitos?
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Vamos voltar à primeira frase: "há milênios o homem constrói mitos". O homem, ser masculino. Foi um ser masculino que roubou o fogo de Zeus para com ele presentear a humanidade; foi a mulher, Pandora, que curiosa e volúvel abriu a caixa que disseminaria todos os males que iriam se tornar humanos. Foi Adão que, criado à imagem e semelhança de Deus, nomeou todos os seres vivos; foi Eva que, ao comer a maçã em sua desobediência lasciva, selou a expulsão do casal do Paraíso.
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Em muitos outros mitos encontramos a figura da mulher passiva e complacente, à espera de seu príncipe encantado. Cinderela, Rapunzel, Bela Adormecida... podem não ser mitos do peso dos mitos gregos e judaico-cristãos, mas são influências inquestionáveis no desenvolvimento de qualquer garota em nossa cultura.
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Crescemos em um mundo bombardeado por mitos que nos ensinam no que é ser mulher. A Barbie nos traz o ideal da "nova mulher do sec. XXI": bem-sucedida em seu emprego, na moda, casada, talvez com filhos e, de preferência, de cabelo liso e loiro. Para sempre feminina, conciliadora, seduzindo e enganando os homens. Será esse o papel da mulher - algo entre a mulher que espera o príncipe encantado e a que carrega a culpa pelos males do mundo? Teria a Cinderela imaginado que seria forçada a fazer jornada dupla?
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Faz-se necessário questionar essas imagens e avaliar se elas são compatíveis com a nossa realidade. Cabe a nós reproduzir ou reciclar os mitos para que se adaptem ao que nós desejamos para o futuro. Quem sabe um dia as jovens mulheres poderão espelhar-se em mitos de mulheres fortes e guerreiras que desbravam seus caminhos sem precisar do príncipe encantado.



(Minha redação de vestibular, ontem)

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5.1.07

Coração de mãe

Quando a mãe da Violeta ouviu pela primeira vez de sua filha que ela gostava de mulheres, um pensamento pairou em sua cabeça: "Puuutz, ela vai sofrer muito!"
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Esse pensamento vai e volta, e imagino que muitas outras mães fiquem com o coração apertado por suas filhas (tá, vamos excluir aquelas mães que só pensam no próprio sofrimento). "A sociedade é cruel", "ela vai ser xingada na rua", "ela vai sofrer discriminação de todos os lados"... É, não é mole não. Em um país onde a cada dois dias um homossexual é assassinado, essas mães realmente têm por que se preocupar.
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Eu, como lésbica assumida e como a questionadora, chata e cri-cri que sou, parei para pensar sobre isso. "A sociedade é cruel", é verdade. Já recebi olhares feios, já ouvi cantadas, já ouvi xingamentos, já fui maltratada e até bem-tratada demais. Mas o que me abalou de verdade foram o amor e a amizade, não o ódio.
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Eu sei, eu sei, isso foi piegas, mas eu não consigo explicar de forma melhor. O cara te xinga na rua? Você xinga de volta. Os machos passam de carro te olhando como se você fosse um suculento pedaço de carne? Você dá o dedo para eles, ou chuta o carro, sei lá. Dá raiva, deixa a gente indignada, mas passa.
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O que fere mesmo são as pessoas de perto. Os amigos, os amores. Pessoas que nos conhecem, em que nós confiamos, que (querendo ou não) criamos expectativas. Convivemos, fazemos planos, choramos as mágoas. Somos nós mesmas. E que, um belo dia, dizem: "me senti incomodada com você e sua namorada." "Vocês não podiam ser mais discretas?" "Eu não quero ser vista com você porque não quero que as pessoas falem da minha vida." "Me senti desrespeitada por você parecer lésbica na frente de meus novos amigos". "Você não entende como é difícil ser enrustida." Ah, pois eu entendo. Nós duas entendemos. E tudo que nós queríamos, quando estávamos no armário, era que alguém tratasse a homoafetividade como algo comum, normal. Depois de tudo que ouvi, começo a achar que éramos as únicas que pensávamos assim.
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Hoje eu tenho certeza de que o que machuca mesmo, o que nos fere, são as pessoas que amamos. As que nos odeiam e nos agridem gratuitamente são facilmente esquecidas. As pessoas a quem nós nos entregamos, bem... essas deixam marcas que não saem tão cedo. E é por essas, apenas, que eu concordo com as mães mais angustiadas - sim, nós vamos sofrer muito. Mas olha, eu digo por mim: eu não trocaria essa vida por nada.

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2.1.07

Surpresa no caminho do trabalho

Saímos de casa hoje atrasadíssimas para o trabalho da Violeta. Quer dizer, ela estava atrasada, pois eu estava só de motorista. Entramos no carro e, prontas para correr para o trabalho, eu ouço a Violeta falar um "espera aí!" enquanto saía do carro. "Espera aí? Mas tu já estás atrasada!", eu pensei. Ela deu a volta no carro e parou em frente a ele, perto dos limpadores de pára-brisa. Pegou cuidadosamente uma folha seca na mão e me mostrou. "Olha só!", ela disse, me mostrando a mão. Olhei mais atentamente: um passarinho!
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Que coisinha mais pequena! "Deve ter caído do ninho tentando voar", imaginamos. Ficamos olhando para cima, para a árvore que emprestava sua sombra para o carro. Onde estaria o ninho? Com uma árvore daquele tamanho, seria impossível achá-lo. "O que a gente faz com ele?"
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Levamos o passarinho. Seria um filhotinho de pardal? Violeta dirigiu e eu segurei o passarinho, que se aquietou em uma mão minha quase fechada, e olha que minha mão é das menores que já vi. Fomos a uma loja de produtos para aves, conversamos com o dono. "A gente leva o que pra ele? Alpiste?" Ele nos instruiu a comprar a papinha para bebês-passarinhos. Eu nunca pensei que pardaizinhos comessem papinha! "Parece uma rolinha", o dono disse. Ok, ok, uma rolinha então.
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Voltamos ao carro e, dessa vez, voamos para o trabalho. Atrasamos mais 20 minutos só nessa brincadeira. Colocamos a rolinha dentro de uma caixa de chocolates vazia que por acaso estava no carro e decidimos que a Violeta cuidaria dela essa noite. "Vou passar a noite no trabalho mesmo, é bom que eu cuido de alguma coisa". "Tu arranjas jornal pra forrar a caixinha lá?", perguntei. Ela disse que sim.
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Chegamos ao trabalho com meia hora de atraso. Violeta entrou toda sorridente com o passarinho escondido na caixinha de chocolate. "Quando ele crescer e estiver forte o sucifiente para voar, a gente solta ele", ela havia sugerido no caminho. Concordei.
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Voltei para casa toda feliz. Lembrei da cara de alegria da Violeta ao entrar no trabalho com aquela caixinha de chocolate - sem chocolate algum - nas mãos. Morri de orgulho da minha (quase) veterinária. E percebi que é nessas horas que eu vejo que estou namorando a garota certa.

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