Eu não sou discreta. E não quero ser. Sou feliz assim, com um "gay" escrito na testa. Namorando no shopping, comprando presentes de Natal com a namorada. Passando o Natal com a família da namorada. Andando de mãos dadas. Me sinto normal assim. Por que deveria ser diferente? Homens beijam mulheres em público. Eu também quero beijar a minha.
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Logo que minha mãe me assumiu para tios e tias, ela ouviu uma enxurrada de "fale para a Orquídea ser discreta, afinal, o mundo é cruel!". Mais cruel, para mim, é perder minha vida me escondendo. Escondendo o que sou para o mundo. Escondendo a verdade de mim mesma.
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O Amor deve ser celebrado, dignificado. Não oculto e vergonhoso. Eu amo, assim como tantos outros amam, e beijam, abraçam, trocam carinhos. Eu também quero trocar carinhos. Por que isso me é negado?
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Desconsiderei os apelos de meus tios. Se é para sofrer com o preconceito, prefiro que ele seja esfregado na minha cara. Não agüentaria a sensação de sufocamento ao saber que todos presumem, falam mal pelas costas, riem de mim, sentem pena do meu "desvio". Eu não tenho um desvio. Eu estou bem desse jeito, e quero que todos saibam disso.
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Lésbica? Sim, eu sou. A única da família, mas isso não me deixa tímida. Isso me dá coragem para vestir a roupa de "diferente", "sapatão", "esquisita", o que mais quiserem. Desde que saibam. Desde que eu diga, na cara deles, que essa é a vida que eu escolhi para mim, e eu a amo. Não a trocaria por nada, nem por um homem, nem por um casamento, nem por aceitação social. Eu adoro o mundo gay. Eu adoro amar outra mulher. Eu adoro me sentir livre de padrões heterossexuais. Eu adoro as baladas gays. (os héteros são normais e chatos, pra mim. entediantes.) Eu adoro a bandeira do arco-íris.
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Eu gosto da subversão, do inverso, do inusitado. Quero quebrar as correntes que me prendem num gênero único e certinho: "você é mulher, usa salto, gosta de cor-de-rosa, sonha em casar de branco e ter filhos loirinhos". Eu quero gritar a todos que eu existo, assim como tantas outras, e que nós somos felizes assim. Que nós somos normais. Para que um dia não exista mais armário nem militantes, apenas igualdade e respeito.
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Mas isso não acontecerá se formos todos discretos. Invisíveis. Inexistentes. A sociedade nunca mudará se nós continuarmos escondidos, marginalizados, desconsiderados. Seremos sempre a minoria negada, facilmente jogada para debaixo do tapete. Apagados dos livros de história.
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Quero aparecer, quero mostrar que existo, e quero dar a cara à tapa: quem tiver algum problema comigo que fale na minha frente, pois eu assumo o que sou para você. Por que isso te incomoda? Não vou ser discreta. Quero abalar as estruturas. Quero derrubar os preconceitos. Quero que as pessoas se sintam incomodadas, afinal, quem sabe assim elas olham para além de seus próprios umbigos. Quero uma revolução. Não vou me esconder.
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E quem tiver essa flama acesa dentro de si, tome a dianteira também. Vá para a linha de frente, alguém tem que fazer esse papel. Assuma. Lute contra seus próprios medos e preconceitos, eles nos matam mais que os externos. Seja você. Contagie outros a sua volta. Liberte-se. Vamos mostrar ao mundo a que viemos - e não, eu não vim ao mundo a passeio, nem para jogar minha vida no lixo enquanto outros aproveitam as suas. Quero amar, ser amada, ser respeitada, ser normal. E para isso faço minha parte. Você já pensou em como pode fazer a sua?
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