talvez minha vida seja assim

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31.12.06

Recordações para a noite de ano-novo

Acho que nunca tivemos uma noite tão boa. Foi tão gostoso, tão bom... acho que nunca dormimos juntas tão bem. Aliás, quando dormimos? Eu lembro de estar falando qualquer coisa, tu não responderes, eu deixar meus olhos se fecharem e, assim, eu dormi. Tanta paz.
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E quanto carinho... eu lembro da primeira vez que me tocaste, quando a barreira do contato físico foi quebrada. Setembro do ano passado? Eu lembro até hoje do teu cafuné, eu no banco da frente do carro, tu atrás, fazendo carinho perto do meu cabelo. Era tão bom, e eu não costumava me sentir tão querida e protegida. Contigo eu me senti. Eu queria aquele carinho para sempre, e tu continuavas lá... eu estava tão acostumada a ter pouco carinho que eu só pensava, por favor, não pára, isso me faz tão bem. E tu continuavas, como se não te cansasse, como se não fosse um sacrifício, como se fosse natural. E isso era novo para mim.
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Eu também lembro da primeira vez que morri de tesão por ti. É até ridículo, estávamos chorando as mágoas de outros amores, e quando eu percebi eu queria estar em cima de ti. Tu tinhas um jeito de me pegar que era firme, me puxando pra ti, com algum fundo de desespero, uma vontade louca de beijar. Eu puxava teu cabelo e tu fechavas os olhos, tentando esconder aquela explosão de sensações. Nada podia ser feito, ninguém deveria perceber - estávamos apenas vendo um filme, tu deitada no meu colo, na casa de uma amiga. Tu me apertavas e meu coração disparava, uma competição pra ver quem fazia a outra ter mais tesão. E hoje eu sei que aquilo era novo para ti.
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Desde aquele dia, eu repetia que minha próxima namorada seria uma garota assumida. Eu e tu fizemos uma promessa, "de agora em diante, só meninas assumidas!" Tu pensavas que, a partir daquele momento, eu te veria como uma opção. Eu falava aquilo para que soubesses que era de ti, e apenas de ti, que eu estava falando. E ontem eu admiti isso.
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Ontem eu me senti querida, protegida, desejada, amada. Completa, e apaixonada. Hoje acordei leve, contente, pensando em como eu gosto de ti. Em como eu te quero bem. Pensei que estamos fazendo a coisa certa indo morar juntas, e pensei no tanto que eu queria que essa noite se repetisse muitas, muitas e muitas vezes.
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Em homenagem à nossa época de amizade (que tu dizes que não existiu, pois sempre nos tratamos como namoradas), te desejo um ótimo 2007, xuxuh. Espero que seja um ano de muitas conquistas, de realizações, de estabilidade e de construções de novos sonhos. E espero, de todo meu coração e de toda a minha alma, te acompanhar em tudo que vier pela frente. Te amo.

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28.12.06

Santas e putas

Vou aproveitar que o blog é anônimo e vou contar uma história próxima de mim. Um conhecida minha tem uma filha que está na 5ª série. Nesse fim de ano, a mãe foi chamada à escola da menina. Lá, a mãe ficou sabendo que sua filha estava sendo acusada de ter "pagado um boquete" para alguns meninos de sua sala. Os meninos contaram para suas mães que, indignadas, foram até a escola exigindo uma postura da diretoria. A menina jura de pés juntos que não fez nada, e algumas amigas dela confirmaram seu álibi. Não adiantou muito: a garota foi expulsa da escola.
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Não sei se a menina fez ou não. Apenas acho estranho que esses meninos tenham contado para suas mães, afinal, se isso realmente aconteceu, não acho que qualquer garoto falaria para a mãe - seria mais provável que eles contassem vantagem entre os amigos, ou coisa do gênero. Pode ser uma história inventada, até porque as amigas da garota falaram que estavam com ela o dia inteiro. Pode ser verdade.
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No fim das contas, não importa se aconteceu ou não. A menina foi expulsa, e eu não entendi até agora por que só ela foi punida. Os meninos não fizeram também? Não é preciso duas pessoas para que exista um boquete? Eles não são tão culpados quanto ela?
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É nítido que, para a diretoria, os meninos foram as vítimas. Se uma garota paga um boquete para um menino, é porque ela é uma puta, uma vadia. A culpa sempre vai ser dela. A mulher sempre vai carregar o estigma da Eva que comeu o fruto proibido. Ela sempre vai ser o lado mais próximo ao Diabo e à tentação, a contraposição ao homem que foi criado à imagem e semelhança de Deus. Sempre vamos ser divididas (pelos homens e por nós mesmas) entre as santas e as putas, as "mulheres pra casar" e as "mulheres para foder". Se você for boazinha, se casará na Igreja com um bom homem que te trará dinheiro e te trairá com uma puta. Pobre menina de 5ª série, que recebeu tão cedo o seu carimbo de puta.

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26.12.06

Não, eu não sou discreta.

Eu não sou discreta. E não quero ser. Sou feliz assim, com um "gay" escrito na testa. Namorando no shopping, comprando presentes de Natal com a namorada. Passando o Natal com a família da namorada. Andando de mãos dadas. Me sinto normal assim. Por que deveria ser diferente? Homens beijam mulheres em público. Eu também quero beijar a minha.
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Logo que minha mãe me assumiu para tios e tias, ela ouviu uma enxurrada de "fale para a Orquídea ser discreta, afinal, o mundo é cruel!". Mais cruel, para mim, é perder minha vida me escondendo. Escondendo o que sou para o mundo. Escondendo a verdade de mim mesma.
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O Amor deve ser celebrado, dignificado. Não oculto e vergonhoso. Eu amo, assim como tantos outros amam, e beijam, abraçam, trocam carinhos. Eu também quero trocar carinhos. Por que isso me é negado?
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Desconsiderei os apelos de meus tios. Se é para sofrer com o preconceito, prefiro que ele seja esfregado na minha cara. Não agüentaria a sensação de sufocamento ao saber que todos presumem, falam mal pelas costas, riem de mim, sentem pena do meu "desvio". Eu não tenho um desvio. Eu estou bem desse jeito, e quero que todos saibam disso.
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Lésbica? Sim, eu sou. A única da família, mas isso não me deixa tímida. Isso me dá coragem para vestir a roupa de "diferente", "sapatão", "esquisita", o que mais quiserem. Desde que saibam. Desde que eu diga, na cara deles, que essa é a vida que eu escolhi para mim, e eu a amo. Não a trocaria por nada, nem por um homem, nem por um casamento, nem por aceitação social. Eu adoro o mundo gay. Eu adoro amar outra mulher. Eu adoro me sentir livre de padrões heterossexuais. Eu adoro as baladas gays. (os héteros são normais e chatos, pra mim. entediantes.) Eu adoro a bandeira do arco-íris.
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Eu gosto da subversão, do inverso, do inusitado. Quero quebrar as correntes que me prendem num gênero único e certinho: "você é mulher, usa salto, gosta de cor-de-rosa, sonha em casar de branco e ter filhos loirinhos". Eu quero gritar a todos que eu existo, assim como tantas outras, e que nós somos felizes assim. Que nós somos normais. Para que um dia não exista mais armário nem militantes, apenas igualdade e respeito.
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Mas isso não acontecerá se formos todos discretos. Invisíveis. Inexistentes. A sociedade nunca mudará se nós continuarmos escondidos, marginalizados, desconsiderados. Seremos sempre a minoria negada, facilmente jogada para debaixo do tapete. Apagados dos livros de história.
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Quero aparecer, quero mostrar que existo, e quero dar a cara à tapa: quem tiver algum problema comigo que fale na minha frente, pois eu assumo o que sou para você. Por que isso te incomoda? Não vou ser discreta. Quero abalar as estruturas. Quero derrubar os preconceitos. Quero que as pessoas se sintam incomodadas, afinal, quem sabe assim elas olham para além de seus próprios umbigos. Quero uma revolução. Não vou me esconder.
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E quem tiver essa flama acesa dentro de si, tome a dianteira também. Vá para a linha de frente, alguém tem que fazer esse papel. Assuma. Lute contra seus próprios medos e preconceitos, eles nos matam mais que os externos. Seja você. Contagie outros a sua volta. Liberte-se. Vamos mostrar ao mundo a que viemos - e não, eu não vim ao mundo a passeio, nem para jogar minha vida no lixo enquanto outros aproveitam as suas. Quero amar, ser amada, ser respeitada, ser normal. E para isso faço minha parte. Você já pensou em como pode fazer a sua?

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22.12.06

Violência contra a mulher

Alguns depoimentos:
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"Já com 14 anos, (ano passado) eu estava indo pra um show que tem aqui em Santos, com um grupo de meninas, eu e minha amiga, esbarramos em uns garotos, que estava vindo em sentido ao contrario ao da gente, e eles aproveitaram esse esbarram e passarão a mão na nossa vagina. Não sei o que minha amiga pensou mas não falou nada. E eu muito envergonhada, tive a coragem de os xingarem só."
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"Eu tinha 16 anos quando apanhei de um cara que vi duas vezes e mal sabia quem era. Sua namorada era minha amiga, mas mesmo assim ele não gostou de termos saído juntas. Apanhei na rua enquanto muita gente olhava mas ninguém fazia nada, e quando a ficha caiu e eu finalmente consegui reagir, todos me seguraram. Lógico, onde já se viu mulher reagir enquanto apanha? "Mulher que é mulher tem que apanhar calada! Não separe, ele deve ter seus motivos... O quêêê, ela é sapatão? Então bate mais, meu filho, pra ver se cura!"
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"Lembro que tinha uns 7 anos e era humilhada na escola por ser gordinha e por isso muito sozinha. Um belo dia esse velho me pediu para ficar de pé e encostar na parede, sem entender o porque eu fiz, ele abaixou o meu short e começoe a apassar a mão em mim. Não estava entendendo e achei que se saisse meu pai brigaria, já que eram muito amigos. Isso continuou a contecendo, toda semana, até o dia em que meu pai vendeu o mercado e eu nunca mais vi o velho."
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"Foi meu marido quem me agrediu. Pensei que teriámos uma relação agradável mas fui surpreendida com uma enorme brutalidade.Tive a sensação de que ele estava descarregando todo o seu ódio em mim, foi muito ruim. Nem os meus gemidos de dor e minhas lágrimas foram capazes de tocar o coração dele. Terminado o serviço ele dormiu como se tivesse sido bom para mim também. Hoje estou com medo de que ele me toque novamente, não quero ser submetida áquela situação novamente. (...) Não sei se é físico ou psíquico mas ainda sinto dores no meu ventre, e já faz uma semana.Estou enviando está história para que outras mulheres saibam que não só são as Marias da vida que são vítimas de homens covardes, eu que sou advogada tenho muito medo de falar sobre isso."
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Todos os dias mulheres são violentadas das mais variadas formas. Todos os dias mulheres são silenciadas, seja por vergonha, por medo, por violência física, por se sentirem culpadas ou por tantas outras razões. Todas nós somos, em maior ou menor grau, vítimas de uma violência invisível.
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Está na hora de tornar essa violência visível. Precisamos mudar essa realidade.

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19.12.06

Natal está chegando...

... e o que você fez pelos outros esse ano?

Tá, eu sei, essas 'reflexões-de-fim-de-ano' são um saco. Não vou falar de 'espírito natalino', nem de 'compaixão' ou 'solidariedade' (essas palavras sempre me parecem 'vamos ter pena de quem tem menos que nós'). O que vou falar aqui é de humanização.

Estamos tão acostumadas ao mundo do jeito que tá que tudo é 'normal'. Tem gente passando fome? Que droga. Pessoas morando nas ruas? É triste, mas é só virar o rosto ao passar de carro por elas. Para onde olhamos há desigualdade, mas 'é assim mesmo', 'fazer o quê?' Afinal, 'não fui eu quem criou o mundo'.

O que falta, na minha opinião, é humanizar as pessoas. É fazer com que todos percebam que não, não é normal. O mundo tá errado, tá fudido, e as pessoas que têm menos não devem ser menos por isso. Aliás, é preciso que olhemos todas as pessoas como pessoas, e não como 'coisas'. Pessoas que sentem, que vivem, que sofrem, que deveriam ter acesso às mesmas coisas que nós - mas não têm. Gente que não tem comida, não tem abrigo, não tem lazer, não tem cultura, não tem direitos.

Claro, não podemos mudar o mundo sozinhas. Mas podemos começar por algum lado. Que tal doar algumas roupas que estão paradas no guarda-roupa para alguma instituição? Ou dar brinquedos para a ala pediátrica de um hospital? Adotar um bichinho de rua, em vez de comprar um bicho de raça. Parar de comer carne (essa eu não consigo, mas se alguém se identificar, é uma ótima maneira de começar). Ajudar a organizar a biblioteca de sua escola. Adotar uma carta (para quem não entendeu, é só clicar aqui). Fazer um mutirão para limpar a área de lazer de seu bairro. Doar sangue. Parar de consumir produtos de marcas que testam em animais (veja a lista aqui). Sair do armário. Descobrir se há coleta seletiva em sua cidade e, em caso afirmativo, separar o lixo. Não rir de piadas machistas e homofóbicas. Reclamar ao comprar produtos com defeito. Acompanhar o que anda fazendo o político em quem você votou (os mandatos começam agora em janeiro, é uma boa hora para começar a fazer isso). Se disponibilizar para gravar livros em CDs para que cegos possam ouvi-los. Participar de campanhas contra o preconceito (muitas vezes, não é preciso nem mostrar a cara). Tomar alguma atitude.

Muita coisa pode ser feita. O que você vai fazer ano que vem?

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18.12.06

só um desabafo...

Fim de dia péssimo.
O fim de semana foi perfeito, muito carinho, muito amor, sexo como há tempos não fazíamos. Mas o domingo terminou mal. Brigamos, nos magoamos...

Me senti abandonada. Um problema, uma dificuldade que você resolve se afastando, pagando por aquilo que não fiz. E não estou livrando a minha cara, sei que fiz o mesmo, sei que você sofre todos os dias as conseqüências de atitudes que não foram suas. Sei que conservo uma armadura enorme, que não demonstro, que muitas vezes sou fria. Achei demais, falei demais, tive crise demais, e apesar de você ser minha melhor amiga é agora minha namorada e não têm que ouvir mais todas as minhas crises.

To tentando cumprir com todas as expectativas, trabalho, universidade, namoro. To tentando dar o máximo de mim, mesmo quando não me sinto preparada. Me sinto fraca pra muitas coisas, imatura, vulnerável, cheia de medos. Minha vida ta mudando, cedo demais talvez, mas não sei se alguém se preocupou com isso, olhou pro lado e perguntou se eu tava conseguindo acompanhar o ritmo. To sem chão há tanto tempo que não sei mais reagir a isso, acabo me fechando, sem querer, fugindo de tudo.

Vi tudo, vi a entrega, vi que se arriscou, preciso que isso se repita pra saber que você ainda acha que eu valho a pena. E pra que um dia eu consiga me entregar da mesma forma. Eu quero sentir. Eu não quero o meio termo, não com você.

Tanta coisa me assusta sabe, que às vezes só penso em dormir, esperar o outro dia chegar pra eu poder tirar mais forças de algum lugar. Me sinto sozinha, acuada, insegura, porque não sei se um dia você vai querer realmente ficar só comigo, não sei se vai estar lá pra cuidar de mim e me sinto na obrigação de te provar tudo isso agora. Aprendi a ser sozinha por medo de sofrer, o que faço agora pra te provar o que sinto? Pra demonstrar?

Desculpa por hoje, só queria dizer que te amo.

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Pausa

Pausa na vida virtual para um fim-de-semana de muito carinho e amor reais.

(Isso foi brega, mas foi sincero.)

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14.12.06

O show!

Ontem foi a estréia da Orquídea numa banda onde a Dama-da-Noite também canta. Primeiro show, todo mundo nervoso, tremedeira. Mas havia um motivo a mais pra tanta excitação: o pai dela veio assistir o show!

Momento de confraternização, na mesa estavam os pais dela, o irmão, a minha mãe (meu pai e minha vó não puderam ir por motivos de saúde...) , amigos e Impatiens. O show foi ótimo, todos adoraram o repertório e a melhor parte foi as meninas cantando, sem contar com a cara de orgulho do pai da Orquídea!


(destaque para a banda que com duas meninas não deixa de ser uma banda de macho! =P)

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12.12.06

Mais sobre o apartamento

Ontem fomos a uma loja de tintas escolher as cores que estarão em algumas paredes do quarto e da sala do novo apartamento. A gente já tinha meio que escolhido que cores seriam, então ontem foi só decidir entre certos tipos de roxo e de vermelho. Trouxemos para casa dois potinhos de 800 ml, o menor tamanho, para testar nas paredes e ver se as cores vão ser essas.
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Hoje é dia de pegar o contrato do apartamento e ver com atenção os últimos detalhes para devolvê-lo amanhã e receber as chaves. Depois de pegar o bendito contrato, devemos passear na Tok & Stok para ver coisinhas coloridas. Há anos eu passeio por lá mobiliando uma casa imaginária - e agora vou ter uma de verdade. Tão gostoso virar gente grande!
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Ontem também foi dia de a Violeta experimentar óculos novos. Pela primeira vez eu vi uma menina que descarta armações por serem "muito femininas". Como ela diria, na cara do vendedor: "Eu trabalho meu visual há anos para ele ser andrógino, não vou estragar tudo com óculos de menina!"
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Ok, ok, ela tem razão. Mas eu admito que esse namoro me faz pensar e repensar minhas noções de gênero todos os dias...

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10.12.06

Conversando

Eu adoro conversar. Acho que a gente sempre aprende quando trocamos idéias com outras pessoas. São pontos de vistas diferentes, vivências diferentes, interesses, gostos, crenças diferentes... Me realizo conversando com alguém quando as duas pessoas estão abertas a ouvir o outro, dialogar, construir algo daquela conversa e sair dali com algo novo na cabeça.
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Ontem, no McCafé (sim, nós somos duas escravas do capitalismo e adoramos McDonald's), um atendente veio todo feliz receber meu pedido. Anotou tudo e, na hora de preparar meu cafécomchocolate, perguntou há quanto tempo eu e Violeta namorávamos. Assim, tranqüilamente.
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Acabou que nós 3 ficamos falando da vida. Da amiga lésbica dele, da reação dele quando viu duas mulheres se beijando pela primeira vez, de quanto tempo eu e Violeta namoramos, de nossas famílias, do estereótipo de lésbica que nem sempre é verdadeiro, do jeito que ele não gosta que gays dêem em cima dele (ao que nós respondemos "ah, mas ninguém, nem homem nem mulher, ninguém merece alguém dando em cima toscamente!")... quando acabei o cafécomchocolate, nos despedimos do novo amigo e viemos para casa, alegres com o que tinha acontecido.
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O que eu queria mesmo era poder conversar assim com as pessoas. Com gente aberta, que sempre pode me ensinar alguma coisa, e pra quem eu posso ensinar algo também. Tá certo que não dá pra mudar a cabeça de alguém em 5 minutos, mas dá pra deixar plantadinhas algumas idéias que, talvez, façam sentido mais tarde. E assim ir mudando esse mundo tão cheio de conceitos prontos, imutáveis, unilaterais.

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9.12.06

A festa

Ontem foi, finalmente, a festa do trabalho da Violeta. E ela estava linda, muito linda - ou lindo, pode escolher. Calça jeans, sapato masculino, camisa masculina branca com listras pretas verticais bem fininhas, irregulares, e o cabelo liso, todo pra cima, repicado, muito espetado. Ela, que já era andrógina, tava um menino puro. Fiquei louca vendo aquilo: minha namorada era o fetiche de toda(o) bissexual. *arrepio*
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Claro que fomos o casal exótico da festa. E eu lembrei por que estou na comunidade orkutiana "Não socializo em evento hétero". Música ruim, pessoas que não sabem dançar, mulheres vestidas iguais, todas rebolando para os machos. Eeeow.
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Me diverti com as reações das pessoas. Algumas me ignoravam ao falar com a Violeta, outras me cumprimentavam como se eu fosse um homem ("e aí!", seguido de aperto de mão forte). Em compensação, acho que os garçons estavam tão preocupados em não nos destratar que eles ofereciam aqueles quitutes deliciosos até quando estávamos no meio da pista de dança. É, pelo menos nós não passamos fome.
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Ao chegar em casa, o melhor fim de noite. Com uma namorada de gênero indefinido, eu podia escolher se eu queria ir pra cama com a namorada ou com o namorado. Ui!
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xxx
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(Hoje de manhã, a empregada entra para arrumar o quarto e tem um pinto de silicone em cima do criado-mudo.)
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(Ops!)

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7.12.06

Apartamento

Hoje a gente achou um apartamento pra gente.

Grande, novo, bem cuidado, preço bom, vizinhança boa.

Amanhã eu devo ver o contrato, e à noite tem a festa do trabalho da Violeta.

Acho que eu deveria estar com medo, mas me sinto tão aliviada...

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6.12.06

Mobilidade social

Eu estava pensando na minha vida universitária quando me deu um estalo. A gente estuda, estuda, estuda, para ter empregos melhores e mais bem-remunerados. Ensino médio, ensino superior, especializações, pós-graduações... e é amplamente divulgado que, a cada degrau desses, a chance de salários mais gordos aumenta.
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Enquanto isso, os trabalhos mais mal pagos são os braçais, os que não precisam de estudo. Pedreiros, garis, empregadas domésticas...

Claro, isso faz muito sentido. Se uma pessoa estuda mais, ela pode ocupar cargos intelectuais que não estão disponíveis para quem não tem estudo. E quem não tem estudo se vale apenas do físico. O discurso é que a mobilidade social existe, e se dá através da educação. Mas não sei se isso funciona...

Será que a educação está disponível a todos? Será que uma criança pobre, que mal tem comida em casa, vai deixar de trabalhar para estudar? Ou então, será que uma pessoa pobre que estudou a vida inteira em escola pública vai conseguir passar em um vestibular?

Quanto mais eu pensava, mais eu achava que a mobilidade social é, por enquanto, uma grande farsa. Enquanto não forem criadas maneiras de levar as pessoas às escolas e mantê-las lá, não se pode dizer que temos oportunidades iguais. Enquanto a escola pública for de péssima qualidade, as universidades públicas vão continuar aceitando apenas os ricos que tiveram uma boa educação e conseguiram passar no vestibular. (E faz algum sentido o pobre que estudou a vida inteira em escola pública ter que pagar para estudar em uma faculdade?)

Mais do que isso, me questionei também as "bases". Por que o trabalho físico é menos que o intelectual? Por que um pedreiro é menos do que um engenheiro? Por que a empregada doméstica é menos que a socialite?

Pior que perceber que a mobilidade social não existe é perceber que nosso valor é dado não pelo estudo, nem pelo intelecto, mas pelo dinheiro - e que nada é feito para mudar isso.



[Imagem: Portinari, Café, 1925. Será que mudou algo de lá pra cá?]

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5.12.06

A pergunta que não quer calar...

A Violeta andou passando mal pelos últimos dias e, hoje, voltou do médico com um aparelhinho que vai medir a pressão e a freqüência cardíaca dela o dia inteiro.

Considerando que a atividade sexual alteraria o resultado do monitoramento, será que a gente pode transar hoje?

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2.12.06

"Fulaninho é de cor."

Mais mau humor express!

Detesto quando ouço alguém dizer que "fulaninho é de cor", ou seja, fulaninho é preto. Sempre penso: ué, por que o preto é "de cor" e o branco não? Não somos todos "coloridos"?

Não sei se vocês já viram, uma marca de tintas está fazendo uma campanha publicitária com fotos de pessoas muito, muito brancas na frente de paredes coloridas, com o slogan "mudar faz parte da vida". São 6 ou 7 fotos, que vão desde a infância, passando por fotos de adolescentes e casais, até chegar em uma mulher grávida, mostrando uma seqüência "natural" de vida (nenhuma surpresa ter uma mulher grávida, não?).

As fotos são lindas, mas não dá pra não pensar: estamos no Brasil, um país super misturado de cores e formas, e uma campanha dessas utiliza modelos brancos-quase-albinos, daquele tipo que a gente quase não vê nas ruas - pelo menos não aqui pelo Centro-Oeste. Não é curiosa essa escolha?

Quando bati o olho nessa propaganda a primeira vez, pensei na hora na expressão "fulaninho é de cor". Ou seja, se o preto é "de cor", o branco é "não-cor". Um "não-cor" que é valorizado porque é tido como o padrão, a tela em branco pronta para ser pintada. O branco é o padrão, o natural, o europeu conquistador (superior?), enquanto os "mestiços" e os pretos são derivações do branco, misturados, "sujos", os povos "primitivos" das Américas e da África.

Sendo assim, em uma campanha publicitária de tintas, a escolha óbvia vai ser a pessoa branca. Assim como a parede branca, ela vai dar a idéia de "não-cor", sendo suscetível às mudanças da vida (no caso, um galão de tinta). E não é engraçado que essa sensação exista? Afinal, cá pra nós: eu nunca vi uma pessoa branca que fosse efetivamente branca, cor de papel A4. Mesmo o ser humano mais branco tem uma coloração (pigmentação) em sua pele. Mas nós somos treinadas para enxergar as pessoas amareladas, rosadas, beges, etc. como "brancas" e, portanto, de "não-cor". Da mesma forma, todos os tons de pele mais vermelhos e marrons são colocados na categoria "de cor".

Amarelos, cor-de-rosa, beges, vermelhos, marrons, azuis. No fim das contas, não somos todos "de cor"?

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1.12.06

Mulher = mãe ?

Eu estava lendo o jornal ontem e vi uma matéria interessantíssima. Na capa, a foto de uma mulher com um bebê no colo, ao lado de um texto que informava que em uma das cidades mais pobres do Pará uma jovem deu a luz a trigêmeos. A chamada da matéria (essa é a parte mais legal) era "Felicidade Tripla".

Fiquei pensando com os meus botões. Será que a felicidade era mesmo tripla? No relato dos pais, eles mal tinham comida para os adultos da casa. Queriam um filho, mas se Deus tinha dado três (como eles falavam), Deus ajudaria a criar.

Mas a questão aqui não é Deus. O que me intrigou foi aquela foto na capa, da mãe com seu bebê, quase uma Virgem Maria do século XXI. Com sua "felicidade tripla". Claro, pois se ser mãe já é uma felicidade, ser mãe três vezes só poder triplicar essa alegria!

Lembrei das histórias que já ouvi de mães. Corpo deformado, bicos dos peitos sangrando, dores intensas, leite vazando de você como uma vaca, noites em claro, casamento naufragando, dinheiro apertando... Será que isso é sinônimo de felicidade?

Não quero aqui fazer discurso anti-maternidade. Mas não canso de pensar: por que ninguém fala nesse outro lado da moeda? O que todos dizem é que a maternidade é um período feliz, maravilhoso e de transcendental realização para a mulher. E por que só para a mulher? Por que a paternidade não é, do mesmo modo, única e indescritível (e necessária) para o homem?

O que eu vejo é que a "grande realização" da vida da mulher seria ser mãe. Quase um destino natural, valorizado por todos porque nós, mulheres, somos as únicas que podemos dar a vida a outro ser. Por isso, temos quase que uma obrigação em desejar a maternidade, e em nos realizarmos nela. Ser "mãe" se mistura ao ser "mulher", as duas qualidades sendo indissociáveis. Ser "mãe" torna-se um desejo compulsório de toda mulher.

Jogo aqui algumas perguntas para reflexão: quantas mulheres, entre todas que vocês conhecem, decidiram não ser mães? E quantas dessas são vistas com pena ou com estranhamento? Ao passo que, entre os homens, a decisão de ter ou não filhos é muitas vezes irrelevante. Por que essa diferença?

Nós estamos tão acostumadas ao "funcionamento do mundo" que essas diferenças são naturalizadas, tornando-se invisíveis, ou até mesmo explicadas pela ciência. Para muitos, a mulher tem o "instinto materno"; a testosterona tornaria o homem agressivo e, portanto, moldado para a competição do trabalho e pouco hábil com crianças; homens e mulheres são potencialmente iguais, como bradou o feminismo, mas você só é vista como uma mulher completa se tiver filhos...

Até onde essas imposições (invisíveis) nos controlam? Até que ponto o senso comum, ou mesmo a nossa ciência, nos diz o que fazer, como nos comportar, o que desejar? Será mesmo a maternidade a maior realização na vida uma mulher? Se a resposta for um "sim", por que a paternidade não é vista como a maior realização para um homem? Se eu não tiver filhos, eu serei menos mulher?

Tenho muitas outras perguntas, mas como me alonguei demais, termino com esta: o que faz com que (quase) toda mulher sonhe em ser mãe?

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