talvez minha vida seja assim

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29.9.06

Desfeitos os mal-entendidos

Orquídea: Me promete uma coisa?
Impatiens: Ahn.
Orquídea: Quando tu estiveres chateada, ou com raiva, ou qualquer coisa, jura que vais falar?
Impatiens: Já falei sobre isso! Não vou falar com quem não escuta.
Orquídea: Tá, é o seguinte... (grande suspiro) Eu ouvi por outra pessoa que tu comentaste que não agüentavas mais o meu jeito e da Violeta.
Impatiens: O que? Eu nunca falei isso.
Orquídea: ... falaste que a gente se achava demais, e que tu não agüentavas o jeito que a gente achava que todo mundo olhava pra gente quando entrava nos lugares...
Impatiens: Eu não falei isso. Eu disse que não agüentava vocês fazerem disso um drama enorme. Que foi até uma coisa que eu já tinha conversado com vocês duas, separadamente, há meses!
Orquídea: Tá, disso eu lembro. Sobre não se ater aos mesmos problemas.
Impatiens: Então... (pensando) Aaaah! Então por isso o post no blog de vocês?
Orquídea: Sim! Justamente. Eu fiquei puta na hora. "Como assim ela andou falando mal de mim pelas costas?"
Impatiens: Agora faz sentido! Eu li aquilo e pensei: "Será que é sobre a Margarida? Não pode ser. No post tá escrito 'melhor amiga'. A 'melhor amiga' sou eu!"



...



O mais gostoso é que, mesmo com todas as brigas do mundo, os egos continuam lá, enormes. E a gente se adora!

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26.9.06

Manifesto

Velho, cansei disso! Cansei muito.

O que que tá pegando? O foda é que eu não sei dizer. Eu sei dizer por que as brigas estouraram, mas desde quando elas estão aí? Qual a razão delas?

Ficar sabendo de tabela que sua melhor amiga "não te agüenta mais" é muito agradável. E o melhor é que ela não fala, afinal, ela nunca fala. O que eu sei é que o Jardim tá com um clima escroto e ninguém vem conversar. Quer saber? Agora sou eu quem não quer conversar porra nenhuma. Viajo semana que vem, fico sem internet, é bom que eu esfrio a cabeça.

Mas eu queria saber muito: o que incomoda? Eu incomodo? A Violeta incomoda? Nós duas namorando? Porque eu lembro que desde que a gente começou a namorar o Jardim desandou. E ninguém vem dizer o que é, ninguém consegue falar nada. Mas escrever no Jardim falando mal sempre dá. Eu acho ótimo isso!

E já que eu arranjei tanta confusão naquele blog, tô fora. Pelo menos por um tempo. Desculpa se fiz mal em aparecer num site, mas eu acredito que quem pode se expor deve se expor. Eu não quero o anonimato, e não vejo por que isso não pode ser respeitado se eu respeito o anonimato de vocês. Nunca fiz discurso para ninguém se assumir, eu sou a última pessoa que pode fazer esse discurso sendo que eu nunca saí do armário (na verdade, me tiraram). Só queria que fosse respeitada a minha decisão.

Se o problema é eu "me pegar" com minha namorada em público, avisem. Se vocês ficam desconfortáveis, falem. Se nós somos agressivas demais ou chatas demais, reclamem. Mas não fiquem escondendo o que acham pra depois falarem que nós somos, como é mesmo? Ah, sim. Nós julgamos, desrespeitamos, nos achamos as "sapatas fodas" (é até engraçado pra quem me conhece, eu era hétero até ano passado!), nós achamos que fica "todo mundo olhando" quando a gente sai na rua, somos sarcáticas. Pois bem, nenhum sarcasmo agora - assim como não havia antes! - Estou sendo o mais sincera possível. Estou fora.

Divirtam-se com o Jardim.

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24.9.06

Família

Às vésperas de eu sair de casa com a namorada, minha mãe tranqüilamente decidiu me tirar do armário para a família.

Contou para uma tia aqui, uma tia ali, e assim a notícia vai se espalhando (ou quem sabe, confirmando.)

Não pensei que isso fosse acontecer tão cedo. Até porque eu não me imaginava saindo do armário tão cedo... se bem que "tão cedo" é algo complicado de se falar, afinal, quem pode dizer o que é cedo e o que é tarde?

Enfim. Amanhã tem Parada Gay em Taguatinga e eu devo estar lá. Estou morta de cansada... O dia foi estressante, a noite foi mais estressante e tudo que eu queria era ter assistido a um filme em casa. De preferência, na casa da já escolhida parede roxa, deitada no colo da namorada e tomando sorvete. (Suspiro.) Quem sabe daqui a algum tempo?

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22.9.06

Mediando

Esse negócio de namorar a lésbica ativista dá trabalho.

Não bastando isso, a menina é leonina!

O Jardim pega fogo quando as Flores resolvem discutir e depois a Escorpiana precisa acalmar os ânimos dos dois lados.

E quem disse que eu sei fazer isso?

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19.9.06

Duas linhas rápidas

I.
Estou com a 3a temporada de The L Word em casa há semanas e ainda não assisti. Do jeito que estou demorando, acho que acabo vendo a gravação de uma amiga dos episódios de Sailor Moon antes. O bom é que tem uma personagem lésbica, para não perder o costume.

II.
Fato na pizzaria hoje: (sim, nós vivemos na pizzaria!)
Um garçom passa ao nosso lado anunciando o nome da pizza na exata hora em que nos beijamos.
"Frango com catupiry! Frango com ca... *barulho de alguém engasgando* tupiry!"

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15.9.06

O único casal gay da cidade

Foi chegar na pizzaria e todos os fregueses olharem. Alguns até viravam o corpo na cadeira para olhar para trás. A maioria fitou por um tempo e depois fingiu não ligar; outros não conseguiam desviar a atenção e ficavam parados, boquiabertos. O único casal lésbico do lugar. O único casal homossexual. Ou pelo menos, o único casal homossexual que fazia questão de mostrar que era um casal. Como sempre.

Na fila para pagar a conta, um rapaz qualquer esbarrou violentamente na Violeta. Saiu como se nada tivesse acontecido, sem nenhum pedido de desculpas. Será que ele teria agido da mesma forma se tivesse trombado em um homem com sua namorada?

Presto atenção nessas coisas. Já namorei um homem, me passava facilmente por hétero. Talvez por isso eu perceba quando é diferente. Por que as pessoas esbarram mais na Violeta do que em mim? Por que, quando um vendedor de rua percebe que são duas mulheres dentro do carro, ele altera o tom de voz para um mais "meloso"? Por que nós precisamos receber olhares de fetiche? Por que ninguém nos leva a sério como um casal?

As pessoas não sabem lidar com casais do mesmo sexo. O que é bastante compreensível, considerando que elas não precisam lidar com eles. Me pergunto por quanto tempo nós seremos o único casal gay de todos os lugares em que vamos. Mas tenho medo de saber a resposta...

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14.9.06

A pianista

Escrito há algum tempo. Não lembro bem do dia que escrevi, mas lembro exatamente de como aconteceu tudo que está escrito.

A um olhar já há tanto conhecido e investigado, mais que querido. À minha Orquídea.

xxx

A pianista tocava, esquecendo que marcava o tempo para os alunos, tocava no seu ritmo, tocava para ela. Era o que se pode chamar de bonita, cabelos escuros, olhos também escuros, pequena, seus óculos chamavam atenção, demonstravam sua personalidade, forte, quase incontrolável. Tinha aquele olhar distraído, doce, capaz de sorrir antes mesmo de seus lábios. Encantada, possuidora do mistério, que prende, aguça a curiosidade.

Tocava absorta, esquecida do mundo. Suas mãos incrivelmente ágeis brincavam, quase independentes dos seus pensamentos. Esses, distantes, perdidos. Relembrava detalhes, momentos, se questionava sobre aquela noite. Por que? Seu coração parecia querer sair de seu corpo cada vez que se lembrava. Não tinham feito nada, por que se perturbava tanto? Será que realmente traíra em pensamentos, em vontades? Sim, ela havia falado. Entregara-se assumindo, quis beijá-la durante toda a noite. Quis possuí-la. E ela era sua. Isso a incriminava.

Tudo tão real, ela esteve tão desprendida, onde tinha ido parar a outra pessoa? Aquela que fora traída, esquecida por toda a noite, e também pela semana. Isso a matava, ela não a amaria mais então? Teria ela se encantado por outra? Não era possível, logo ela, que jurou amor eterno, que sofreu por esse amor, agora se pegava pensando em outra. Mas tinha sido tão intenso, tão espontâneo, pensava ela, tentando amenizar sua culpa, pois sabia que não havia motivo, elas acabaram, nada a prendia mais. Mas sua consciência dizia-lhe que alguma coisa ainda deveria prendê-las, afinal tinham vivido tantas coisas até então! Sabia que mentia para si mesma, tudo havia acabado há tanto tempo que nem mesmo ela lembrava de como era se sentir bem, feliz ao lado de outra pessoa. Até aquela noite.

Havia se esquecido que tocava, a esta altura os alunos e a outra professora já estavam distraídos, se dissipando, pois a aula chegara ao fim. Voltou assustada do seu sonho, pelo menos havia tocado direito, não errara, apenas continuara tocando quando todos pararam e como era o fim, ninguém prestou atenção.

Mas algo a perturbava, a outra professora apontou a porta, alguém a assistia, discretamente de lá. Olhava fixamente para o piano, tentando controlar a vontade louca de se virar, sabia quem era, sua intuição não iria se enganar agora e por isso seu coração se descompassava. Ela se surpreendeu com a própria reação.

Levantou-se e dirigindo-se a porta não continha o sorriso nem o coração. Sem hesitar abraçou-a, perdida, achada, louca, segura. Como quisera aquele abraço! A outra, confusa, entregue, retribuía o abraço, eram capazes de sentir uma o coração da outra. O tempo parou. Aquela menina estava encantada, não sonhou menos que a pianista enquanto a ouvia tocar, mas mesmo sabendo que não, preferia achar que sonhava sozinha. Mas não depois daquele abraço, tinha certeza que a outra também sonhava e deixava seu lado racional de lado, se entregando àquele abraço.

Ainda embaladas pelo piano, saíram, as duas meninas de mãos dadas. Com aquela felicidade nos olhos, mas escondendo do mundo e delas mesmas os perigos desse sentimento. Saíram, esquecendo por mais um instante da culpa que carregavam, da marca que haviam deixado nelas mesmas, do que poderiam e iriam enfrentar. Saíram, como se existissem apenas elas duas, até o telefone tocar.

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11.9.06

Recortes sobre o olhar

Esta compilação poderia muito bem se chamar "Lembranças e pensamentos sobre lésbicas, postura e sociedade - ênfase no olhar" ou "Relato de como aprendi a olhar o mundo com Violeta". De qualquer maneira, são apenas recortes de situações e pensamentos colocados de forma cronológica. Não sei se é útil para alguém, mas de certo é algo que eu gostaria de deixar registrado.

Escrito e dedicado à minha Violeta.



Na amizade.
Agosto de 2005 a Junho de 2006.
Adorava andar com a Violeta. Ótima amiga, ótima companhia para festas. Lésbica assumida. "Nossas próximas namoradas vão ser assumidas, né? Por favor!" Uma garota andrógina de moicano azul. Cheia de idéias, cheia de energia, sempre contagiante. O mundo deveria ser encarado de frente. Ao lado dela, eu me sentia forte. Andávamos de mãos dadas nos shoppings, ríamos das caras das pessoas. "Todo mundo já sabe, para que esconder?" A gente flertava uma com a outra. Ela era minha namorada nos locais públicos, e nós nos divertíamos quando as pessoas diziam que nós fazíamos um casal lindo. Foi com ela que eu ouvi pela primeira vez a expressão "Visibilidade Lésbica". Aquela paixão pela justiça, igualdade, liberdade, ou algo do gênero. Ela olhava as pessoas nos olhos.

No namoro.
Julho de 2006 a Agosto de 2006.
As mãos dadas constantes. Beijos em locais públicos - em quaisquer e todos os locais públicos. O carinho. A força. "Que sentido faz ficar a um centímetro de distância da pessoa e não a beijar? Todos já perceberam mesmo. O beijo não vai fazer diferença." O apoio das famílias. A cabeça erguida ao passear nos shoppings, cinemas, restaurantes. O orgulho. O brilho nos olhos ao sorrir para estranhos pensando "sim, ela está comigo!" Comentar quando as pessoas olham e ficam estáticas. A normalidade.

Na viagem.
Agosto de 2006.
Cidade de interior. Festa cheia de homens. Medo. O mesmo orgulho da capital, apenas com mais cuidado. Mapear o lugar para saber quando sair. Abraços e carinhos. A postura de namorada mesmo com o clima pesado. "Tem policiais aqui, qualquer coisa a gente fica perto deles." Se eu não olhasse os outros nos olhos, eles se sentiriam superiores. Aprendi a olhar como Violeta - algo meio petulante, meio distanciador, mas sempre com muita confiança e segurança. O orgulho de ser diferente (...e sabendo que existiam tantos iguais a mim escondidos na multidão).

Na volta.
Setembro de 2006.
A tranqüilidade. A naturalidade. Sensação de "nada me abala agora". Me sentir normal. Tão normal que não é mais estranho ser normal. Beijar na universidade sem vergonha. Apresentar como "minha namorada". Passear na rua só com minha mãe e perceber que as pessoas me olham torto mesmo quando eu não estou com a menina andrógina dos três piercings no nariz. Ter consciência do que sou, e assumir isso com orgulho. Olhar as pessoas nos olhos e não desviar o olhar antes delas. Rir de mim mesma ao lembrar das vezes em que me senti envergonhada e das vezes em que eu achava que as pessoas não percebiam o que eu era. Abraçar a Violeta e agradecer por ter me libertado do medo de tentar.

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Domingo

Agora a gente institui o Domingo como o dia do Sexo Oral.



(Caralho, o dia foi bom.)

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8.9.06

Mais um espaço!

Comemorando 2 meses de namoro hoje (eeee!), ficou sob minha responsabilidade fazer um post oficial de abertura para esse blog. Uma ramificação do No Jardim Secreto, (não, não somos flores desertoras!) esse blog foi a idéia de criar mais um espaço para nos expressarmos, principalmente em relação a assuntos que não dizem respeito ao Jardim ou que não interessam às/aos suas/seus leitoras/es. É mais um espaço para falar sobre nossas vidas, questionarmos o mundo e claro, confessarmos algumas coisas! =)
Um pouco mais pessoal, aqui podemos falar dos problemas do casal, das brigas (vide post anterior...), das aventuras, das alegrias... Relaciona não lésbicas e a sociedade e sim um casal de meninas com a vida.
(As resposáveis pelo blog deixam claro que não têm como objetivo transformá-lo em leitura água com açúcar.)


Talvez minha vida seja assim. E a sua?

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7.9.06

Ciúmes e raiva

Entramos no carro ao fim da noite.

Ela: Vamos para sua casa ou para minha?
Eu: Me deixa na minha casa.
Ela: ... é pra eu ir com você?
Eu: Não.

Acho que há mais de um mês nós dormíamos juntas. Nem sei mais quanto tempo. Estávamos revezando as casas, para que as mães não ficassem com ciúmes. Hoje seria diferente.

Fiquei com raiva. Surtei. Tive crise de ciúmes, sim. Não sei se essa foi nossa primeira briga séria, mas sinto como se fosse a primeira briga séria por um assunto idiota. Mas quem não ficaria insegura? Eu conheço bem a história da "amiga com quem sempre rolou um clima". Aquela que você ficaria sem nem pensar se estivesse solteira. Será que pensaria duas vezes estando comprometida?

Não agüentei ver aquilo. Aquela intimidade toda de novo. O contato físico constante, os teus olhos brilhando ao falar com ela. O queixo no chão. Estavas babando por ela, eu tava vendo, eu tava lá! E onde eu entro?

Eu percebi que estavas me tratando bem. Tentavas me ter perto, sei que não me deixaste de lado. Eu ainda era tua namorada. Mas *eu* não agüentei, e é aí que me sinto mal. Não sei se agüento ser trocada de novo. Não do mesmo jeito, o mesmíssimo jeito. E me sinto pior ainda por estar te comparando, igualzinho ela fez comigo. Não quero ser injusta.

Mas ao mesmo tempo, como não me sentir mal? Eu já vi ela te tratar tão mal, e duas semanas depois estás tu lá, passando a mão no cabelo dela e deixando ela te abraçar. Nojo. Eu tenho muito nojo dela, sempre tive. Não que isso venha ao caso. Eu tento respeitar. Mas ela não te respeita. E aí passa a linha do namoro e vem pra linha da amizade, eu tomo as dores *mesmo*. Fico puta. Detesto ela. E tu lá, louca por ela. Porque eu sei que és.

Afinal, o que sentes por ela? Ficarias com ela se tivesses a chance? Eu não sabia se te abraçava mais forte pra mostrar que estavas comigo ou se simplesmente te largava e te deixava com ela. Não consegui te abraçar.

Me senti fraca por ter essa reação. Me lembrei da outra, que sempre usava como desculpa o fato de ter sido trocada e pisada em cima para ser tão ciumenta e arisca. A outra, que no fim das contas pisou em cima de mim, e não eu dela. Me senti fazendo a mesma coisa, usando a mesma desculpa.

Voltei pra casa com raiva. Queria chorar, mas não ia. Repeti muitas vezes para mim mesma que não ia chorar por ti, e por mais mulher nenhuma. Sei que não é verdade. Mas essa noite eu fiquei apenas com raiva.

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